BRÁULIO E FÁTIMA DE CASTRO |
DE BOM
JARDIM A OLINDA,
COM O
SANTINHA NO CORAÇÃO
(Por Clóvis
Campêlo)
Confesso que até algum tempo atrás era completamente ignorante em relação a
Bráulio de Castro e suas músicas. Quem primeiro me chamou a atenção sobre ele
foi Júlio Vila Nova. Depois, no CD “Dez Carnavais”, do Bloco Lírico Cordas e
Retalhos, do qual Júlio é o presidente, descubro a música “O mais querido”, uma
parceria dele com Fátima de Castro, sua mulher e prima legítima, e também
compositora, cantora e instrumentista. É mole?
Mais adiante, nos contatos por mim mantidos
para a produção do programa “Trem das Onze”, na Rádio Universitária AM do
Recife, Walmir Chagas, o Velho Mangaba, presenteia-me com dois CDs seus, onde
constam outras músicas compostas por Bráulio, entre elas o maracatu “Pátio do
Terço” e o frevo-canção “Pernambucaneando”, pelas quais me apaixonei. A partir
dali, ficou patente para mim todo o talento de Bráulio de Castro.
O melhor, porém, ainda estava por vir. Descubro
que, assim como eu, Bráulio também é torcedor do Santa Cruz. Passamos a trocar
figurinhas pela internet. Eu, enviando-lhe as matérias postadas no blog “Santa
Cruz, a história e a glória”, e ele, comentando o material recebido. Depois de
intenso vai-e-vem, proponho-lhe uma entrevista sobre o Santinha. Ele sugere que
deixemos a entrevista para depois do jogo com o Treze de Campina Grande, no dia
16 de outubro, quando já teríamos definida a situação do Santa Cruz na Série D
do Campeonato Brasileiro. O Santa se classifica para as semifinais da
competição, nossos corações se acalmam e marcamos o encontro para o dia 22.
No dia marcado, às 10 horas, conforme o
combinado, acompanhado de Cida Machado, chego na sua casa, numa rua aprazível
do bairro de Casa Caiada, em Olinda, onde somos recebidos por ele e Fátima.
Para um entrevistador, não existe nada melhor
do que um entrevistado falastrão. Descubro que Bráulio é assim. Puxa uma
história atrás da outra – e olhe que são muitas! Nem mesmo precisei me utilizar
das perguntas que tinha elaborado anteriormente.
Bráulio de Castro nasceu na cidade pernambucana
de Bom Jardim, em 1942. Ainda menino, teve um sério problema de saúde que foi
curado pelo leite de Francisca do Pezão, pedinte da cidade que lhe serviu de
ama-de-leite.
Em 1949, veio para o Recife, acompanhando o avô
paterno Ademário Gomes de Castro, indo morar no Largo São Luís, no bairro de
Casa Amarela, naquele tempo já com uma grande população. Acostumado à
tranqüilidade do interior, seu avô não se habituou com a agitação do lugar e,
no ano seguinte, mudou-se para a Rua Ambrósio Machado, no bairro da Iputinga,
bairro mais tranqüilo e onde havia muitos torcedores do Santa Cruz. Ilude-se,
porém, quem pensa que a sua paixão pelo clube das três cores nasceu ali.
Oriundo de uma família tricolor, ele já veio de Bom Jardim com a cabeça feita.
Diz que, na verdade, curtiu duas infâncias felizes: no Recife, na casa do avô,
tomando banho no rio Capibaribe, e nas férias, em Bom Jardim, onde tomava banho
no rio Tracunhaém.
Em 1957, lembra da campanha feita pelo Santa
Cruz para a contratação de Aldemar. O povo ia de bonde para a sede do clube, no
bairro do Arruda, onde, aos pés de uma bandeira tricolor, depositava a sua
contribuição para a contratação do craque. O Santinha formou uma grande equipe
e foi supercampeão pernambucano de futebol, naquele ano.
Em 1964, homem feito, Bráulio ocupava o cargo
de fiscal do Instituto Brasileiro do Café, quando, em abril, instala-se no País
a ditadura militar. Dois meses depois, por conta da sua participação no
movimento estudantil, é cassado do cargo que ocupava no IBC. Sem muitas
oportunidades de trabalho no Recife, cinco anos depois, em 1969, resolve
transferir-se para São Paulo. Chega à Terra da Garoa na mesma época da edição
do famigerado Ato Institucional nº 5. Era um tempo difícil, de incertezas e de
medos.
Mesmo assim, morou 22 anos em São Paulo, só
retornando ao Recife no início dos anos 90.
BRÁULIO E CLÓVIS CAMPÊLO |
Confessa que chegou na Paulicéia disposto a
torcer pelo time do São Paulo, por conta da identificação com as cores do Santa
Cruz. Mas logo se apaixonou pelo Corínthias e seu povão. Não teve mais jeito:
tornou-se corintiano.
Em São Paulo conviveu com grandes nomes da MPB,
como Lupicínio Rodrigues e Adoniran Barbosa, do qual, inclusive, chegou a ser
parceiro, dedicando-lhe três composições, duas feitas quando o compositor já
era falecido. Vários outros nomes da música popular brasileira também gravaram
as suas músicas, como Francisco Petrônio, que gravou a sua composição “Borracha
do Tempo”, único samba incluído no seleto repertório do cantor.
Hoje, tranquilamente instalado em Olinda,
Bráulio continua compondo e torcendo pelo Santa Cruz. Por conta da hipertensão
e com medo da violência das torcidas, dificilmente vai à campo. A sua paixão
pelo clube coral, porém, não arrefece. Lançou há poucos dias um CD com quatorze
composições, entre frevos, sambas e maracatus, interpretadas por ele mesmo,
Fátima de Castro, Bubuska Valença, Walmir Chagas, Chico Nunes e Edy Carlos,
dedicadas ao Mais Querido de Pernambuco e em comemoração à conquista do
campeonato estadual deste ano. No disco ainda homenageia a Bacalhau de
Garanhuns, a quem chama de maior torcedor do mundo.
(FOTOS: CIDA MACHADO/2011)
Recife,
outubro de 2011
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