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DO AUGUSTO – 27/08/2016 – 10:53
O ADEUS
DA FEROZ TORTURADORA
DA
VERDADE E DO IDIOMA
(Por
Augusto Nunes) A pior oradora de todos os tempos protagoniza
derrapagens espetaculares até quando está lendo discursos encomendados a quem
consegue juntar sujeito e predicado. Foi assim em dezembro de 2009, durante a
Conferência do Clima promovida em Copenhague, quando a chefe da Casa Civil do
governo Lula surpreendeu o mundo com a notícia assombrosa: “O meio ambiente é,
sem dúvida, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”, recitou Dilma Rousseff
sem tirar os olhos do papel. E foi em frente. Como não se corrigiu, não se
explicou e nem pediu desculpas, continua valendo o que disse.
Em agosto de 2013, numa visita a Campinas,
Dilma começou a ler à tarde o discurso escrito para ser lido à noite. Ela
contava a sofrida saga de “uma mulher que estudou até a quinta série do curso
fundamental porque vivia na roça com mais nove irmãos e não teve condições de
continuá estudano” quando se deu conta de que aquilo era para mais tarde. “Mas
essa mulher eu vou tratá dela no próximo… na próxima cerimônia que eu vou
participá aqui em Campinas que é a formação do Bolsa Família”, informou. Dado o
aviso, desandou a explicar por que “a casa própia é muito importante”. Isso
mesmo: “própia”.
Se a Dilma dos discursos escritos é uma oradora
de alta periculosidade, a Dilma dos palavrórios de improviso é uma selvagem
serial killer da retórica. Neste 29 de agosto, a transmissão pela TV Senado do
depoimento da presidente agonizante permitirá que milhões de brasileiros
acompanhem ao vivo a primeira e última apresentação conjunta dessas duas
Dilmas. A que diz frases sem pé nem cabeça até quando lê vai caprichar num
falatório fantasiado de Auto da Injustiçada. A que não diz coisa com coisa
quando improvisa vai responder a perguntas dos senadores.
O QUE SE PASSA NESSA CABEÇA? |
Dilma garante que foi ela quem resolveu
defender-se pessoalmente no Senado. Como nenhum dos áulicos que seguem
frequentando o palácio assombrado ousou apresentar-lhe os perigos da ideia de
jerico, a performance da segunda-feira vai atestar que o impeachment livrará o
Brasil, simultaneamente, de uma recordista mundial de incompetência, de uma
mentirosa compulsiva e de uma torturadora da língua portuguesa.
Ela seria poupada desse vexame derradeiro se a
missão impossível fosse repassada aos senadores que permanecem a bordo da embarcação
condenada cujo piloto é José Eduardo Cardozo. O texto que inunda com lágrimas
de esguicho os golpistas cruéis, por exemplo, deveria ser berrado por Lindbergh
Farias, uma gritaria a serviço da pouca vergonha. As réplicas aos senadores
favoráveis ao impeachment ficariam por conta dos integrantes da tropa,
devidamente municiados com vídeos que registram alguns dos melhores piores
momentos da chefe.
Gleisi Hoffmann cuidaria de mostrar que a
presidente reincidiu em pedaladas criminosas por ter compreendido que a Lei de
Responsabilidade Fiscal é mesquinharia de avarento shakespeariano diante da
grandiosidade de um Minha Casa, Minha Vida. Vale tudo para impedir que tão
esplêndido programa definhe por falta de verbas — até raspar o cofre do Banco
do Brasil. Quem discordar de Gleisi será calado pela exibição do vídeo em que
Dilma ensina que uma casa é muito mais que uma casa: “Porque casa é primeiro
sinônimo de segurança. Casa, depois, é sinônimo de uma outra coisa muito
importante. Um lugar para a gente construir laços afetivos. É ali na casa que o
pai e a mãe amam as crianças, dão instruções para as crianças, educam as
crianças… e os jovens. É ali na casa também que cumeça… né? Os encontros, os
namoros, os noivados, os casamentos”.
ENTENDERAM? |
Em seguida, Vanessa Grazziotin explicaria que a
gastança ilegal com obras de infraestrutura só é coisa de meliante juramentado
aos olhos de gente que não sabe direito, por exemplo, para que serve uma ponte.
É só ouvir o que a presidente diz no vídeo: “Por que o que que é uma ponte? Uma
ponte é geralmente, e é algo que nós devemos nos inspirar, porque uma ponte é
um símbolo muito forte. Pensem comigo, uma ponte ela une, uma ponte fortalece,
uma ponte junta energia, uma ponte permite que você supere obstáculos”.
Kátia Abreu provaria que só uma estadista
dotada de um sexto sentido pode enxergar as coisas que só Dilma vê — quem mais
seria capaz de ver um cachorro oculto por trás de cada criança? No desfecho da
contra-ofensiva, Humberto Costa apresentaria o vídeo em que a Mãe do Brasil
Maravilha, numa única frase, saúda a mandioca, exalta o milho e anuncia a
descoberta da mulher sapiens.
A última apresentação do quinteto de patetas
não se limitaria a abreviar o desfecho da chanchada do impeachment com o
despejo definitivo da pior governante da história. Também faria a nação a caçar
respostas para duas perguntas perturbadoras. Como pôde o Brasil eleger e
reeleger esse poste fabricado por um farsante que celebra a ignorância? E como
conseguiu o país sobreviver a uma figura assim?
AUGUSTO NUNES É JORNALISTA |
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