Advinhe em que ele está pensando? |
PRA
CUMEMUIÉ, UAI
O Cacá Rosset já tinha esta
teoria há muitos anos: tudo
que o homem faz é com um
único objetivo: cumemuié
Por Mario Prata
Época – 20/10/2013
Não fosse
pelo microfone do repórter, poderia se dizer tratar-se de um filme bíblico. O
sujeito estava todo coberto de lama, junto com mais trinta mil iguais a ele,
escavando a terra lá em Serra Pelada. O documentário era antigo, é claro, mas
passou na televisão outro dia. E o mineirinho ali, ao ser perguntado por que
queria achar ouro e ficar rico, não pestanejou: pra cumemuié, uai. Claro. Que
outro motivo ele teria? Só fiquei na dúvida se era para conquistar a sua mulher
ou para transar com qualquer mulher. Provavelmente a segunda hipótese.
O Cacá
Rosset já tinha esta teoria há muitos anos: tudo que o homem faz, tudo, é com
um único objetivo: cumemuié. O cara faz um esforço desgraçado para ficar rico
pra quê? O sujeito quer ficar famoso pra quê? O indivíduo malha, faz exercícios
pra quê? Mulher! Pode ser até a própria. Mas a verdade é que é a mulher o
objetivo do homem. O pavão também é assim. Os animais são assim. Os bichos só pensam
nisto. Já as bichas, pra cumeomi.
Fico
imaginando aqueles ministros todos lá na posse e um dizendo para o outro,
enquanto posam para fotografias: vai rolar muita mulher aqui no pedaço. O
jogador quando faz o gol pensa a mesma coisa. O artista em close na novela tem
certeza. Aquele candidato a prefeito naquela cidadezinha. Para o que ele quer
aquele pequeno poder?
As mulheres,
antigamente, ficavam trancadas dentro de casa e se tratavam e ficavam bonitas
apenas para os seus homens. Aí começaram a dar liberdade pras danadas e deu no
que deu. O mundo ganhou vida, além da beleza, é claro.
Pode
continuar a ler, minha querida, que as barbaridades vão parar por aqui. Pode
parar de me achar machista, machão ou coisa parecida. Tudo que eu quis dizer é
que o homem vive em função de você. Vive e pensa em você o dia inteiro, a vida
inteira. Se você, mulher, não existisse, o mundo não teria ido pra frente.
Homem algum iria fazer alguma coisa na vida para impressionar a outro homem,
para conquistar um sujeito igual a ele, de bigode e tudo. Um mundo só de homens
seria o grande erro da criação.
Já dizia a
velha frase que atrás de todo homem bem sucedido existe uma grande mulher. O
dito está envelhecido. Hoje eu diria que na frente de todo homem bem sucedido
existe uma grande mulher.
É você,
mulher, quem impulsiona o mundo. É você quem tem o poder e não o homem. É você
quem decide a compra do apartamento, a cor do carro, o filme a ser visto, o
local das férias. É mesmo para você que vai o ouro extraído lá na lama. Bendita
a hora em que você saiu da cozinha e, bem sucedida, ficou na frente de todos os
homens.
E, se você
que está lendo isto aqui for um homem, tente imaginar a sua vida sem nenhuma
mulher. Aí na sua casa, onde você trabalha, na rua, nas telenovelas. Só homens.
Já pensou? Filmes só com homens? Romance sem uma Capitu ou uma Madame Bovary?
Um casamento sem noiva? Um mundo sem cinturas e saboneteiras? Um mundo sem
sogras? Enfim, um mundo sem metas.
Tá certo o
mineirinho de Serra Pelada. Todo o ouro do mundo para as mulheres. E, aos
homens, um abraço. (MP)
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Mario Prata é escritor, dramaturgo, jornalista e cronista brasileiro. É natural de Uberaba (1946), Minas Gerais, mas viveu boa parte da infância e adolescência em Lins, interior de São Paulo. Em mais de 50 anos de escrita, tem no currículo 3 mil crônicas e cerca de 80 títulos, entre romances, livros de contos, roteiros e peças teatrais. Na carreira, recebeu 18 prêmios nacionais e estrangeiros, com obras reconhecidas no cinema, literatura, teatro e televisão. Fonte: site oficial do autor
https://marioprata.net
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