Foto: arquivo Google |
Há fatos que Isaura jamais conseguiu compreender e que, aliás, continua
não entendendo. Chega a questionar a serventia de anos e anos de estudo, aqui e
no exterior, sempre nos melhores colégios e universidades. Circulou inúmeras
vezes pelas principais capitais europeias. Conhece Nova York tão bem quanto São
Paulo, onde nasceu em berço esplêndido, há 40 anos. Das muitas incertezas que
alimenta, tem uma convicção – menos mal, podia não ter nenhuma. Quase duas
décadas de análise não lhe trouxeram alento. Grana alta que se foi pelo ralo. Mas,
falta de dinheiro nunca foi problema para ela. Dane-se, a perda. Não lhe fez
falta. O que a incomoda - de fato e muito - é não compreender certas coisas, principal razão de seu abatimento psíquico.
Namoradeira, Isaura saiu e ficou com homens bonitos e cheirosos, tão
ricos e viajados como ela. Divertiu-se, mas nunca criou raízes. Livre demais
para depender afetivamente de quem quer que seja. Não se lembra de nada que
tenha desejado e não tivesse obtido assim: num estalar de dedos, num piscar de
olhos, num átimo. Linda e rica, ela nunca invejou nenhuma de suas quase amigas.
Confidente? Só o travesseiro – e olhe lá.
Justamente por tudo isso, Isaura ainda busca explicações para sua birra
com Josefa – uma negrinha magra que só, de pouco menos de trinta anos, pobre, dentadura
no lugar dos dentes, marido feio e fedido, com direito a apenas dois finais de semana
de folga por mês. Josefa é uma de suas empregadas. Como alguém nessa condição miserável pode estar
sempre sorrindo, acreditar no futuro, agradecer a Deus pelo quase nada que tem?
Isaura acha que há coisas que nem Freud explica. Passa horas olhando o mar em
busca de razões que possam lhe explicar a felicidade de Josefa. (OS – Atualizado em novembro de 2017)
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