terça-feira, 14 de novembro de 2017

QUASE HISTÓRIAS: QUE COISA, HEIM?

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Foto: arquivo Google
Há fatos que Isaura jamais conseguiu compreender e que, aliás, continua não entendendo. Chega a questionar a serventia de anos e anos de estudo, aqui e no exterior, sempre nos melhores colégios e universidades. Circulou inúmeras vezes pelas principais capitais europeias. Conhece Nova York tão bem quanto São Paulo, onde nasceu em berço esplêndido, há 40 anos. Das muitas incertezas que alimenta, tem uma convicção – menos mal, podia não ter nenhuma. Quase duas décadas de análise não lhe trouxeram alento. Grana alta que se foi pelo ralo. Mas, falta de dinheiro nunca foi problema para ela. Dane-se, a perda. Não lhe fez falta. O que a incomoda - de fato e muito - é não compreender certas coisas, principal razão de seu abatimento psíquico.

Namoradeira, Isaura saiu e ficou com homens bonitos e cheirosos, tão ricos e viajados como ela. Divertiu-se, mas nunca criou raízes. Livre demais para depender afetivamente de quem quer que seja. Não se lembra de nada que tenha desejado e não tivesse obtido assim: num estalar de dedos, num piscar de olhos, num átimo. Linda e rica, ela nunca invejou nenhuma de suas quase amigas. Confidente? Só o travesseiro – e olhe lá.

Justamente por tudo isso, Isaura ainda busca explicações para sua birra com Josefa – uma negrinha magra que só, de pouco menos de trinta anos, pobre, dentadura no lugar dos dentes, marido feio e fedido, com direito a apenas dois finais de semana de folga por mês. Josefa é uma de suas empregadas. Como alguém nessa condição miserável pode estar sempre sorrindo, acreditar no futuro, agradecer a Deus pelo quase nada que tem? Isaura acha que há coisas que nem Freud explica. Passa horas olhando o mar em busca de razões que possam lhe explicar a felicidade de Josefa. (OS – Atualizado em novembro de 2017)

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