terça-feira, 21 de novembro de 2017

POLÍTICA/OPINIÃO: RICARDO NOBLAT

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Sorria, Loures, você está sendo filmado
Foto: G1 - Globo. com

COM QUANTAS MALAS SE PRATICA UM CRIME?

Para o novo diretor-geral da PF, uma mala com R$ 500 mil,
entregue por um empresário a um assessor especial
do presidente da República a título de pagamento de propina,
é apenas uma mala, nada mais do que uma mala

Por Ricardo Noblat
21/11/2017 - 02h39

A dar-se crédito ao que disse ontem o delegado Fernando Segóvia, novo diretor-geral da Polícia Federal, uma mala com R$ 500 mil, entregue por um empresário a um assessor especial do presidente da República a título de pagamento de propina, é apenas uma mala, nada mais do que uma mala.

E, por isso, insuficiente para sustentar qualquer denúncia de corrupção contra o presidente. Não importa que antes da entrega da mala o empresário tenha conversado com o presidente e este, designado o assessor para revolver qualquer problema que ele tivesse dentro do governo.

Não importa também que o assessor tenha sido filmado carregando a mala. E que, mais tarde, com medo de ser preso, tenha endereçado a mala à Polícia Federal faltando uma parte dos R$ 500 mil, devolvida por ele mais tarde. Até hoje, o assessor, preso e solto depois, recusa-se a dizer a quem a mala se destinava.

Foi com base em extenso relatório da Polícia Federal que Rodrigo Janot, à época Procurador-Geral da República, denunciou o presidente Michel Temer por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Denunciou-o outra vez por organização criminosa. Certamente Segóvia ainda não teve tempo para ler o relatório.

Sua estreia no cargo, depois de dois anos como adido da embaixada do Brasil na África do Sul, deixou amplamente felizes o presidente que o nomeou e os que o indicaram – o PMDB de José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá, o ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.

Tudo gente boa – embora todos eles, à exceção de Gilmar, às voltas com processos da Lava Jato. Segóvia deixou claro no seu discurso de posse a que veio – segurar as redes da Polícia Federal para que ela evite criar novos embaraços para políticos encrencados.


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