Ministros do STF: muita pompa, muitas circunstâncias Foto: Arquivo Google |
APÓS
PARIR AÉCIO, STF
TERÁ
DE EMBALAR PICCIANI
Os
ministros que estenderam a mão para Aécio
sustentam
que o Supremo não foi contraditório
ao
ignorar que tratara Cunha a pontapés. Faz sentido.
Não
é que a Corte máxima do Judiciário brasileiro
seja
incoerente, apenas possui jurisprudência múltipla
Por Josias
de Souza
josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br
22/11/2017
| 04:32
Apenas
um brasileiro em um milhão é capaz de entender a confusão jurídica que o
Supremo Tribunal Federal provocou ao lavar as mãos no caso de Aécio Neves. Mas
basta entrar em qualquer boteco de Copacabana que a encrenca está lá. A coisa
ferveu depois que a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro tentou sumir com o
sabonete no caso que envolve o deputado estadual Jorge Picciani e Cia.
A
procuradora-geral Raquel Dodge levou ao Supremo a queda de braço travada entre
o Legislativo fluminense e a Justiça. Sustentou que a votação da Assembleia que
anulou a prisão e a suspensão do mandato de três caciques do PMDB — já
devolvidos à cela pelo TRF-2— ofende as leis e a Constituição. A doutora pede
que a decisão da Assembleia do Rio seja anulada, esclarecendo-se que o
veredicto do Supremo que favoreceu Aécio não vale para parlamentares estaduais.
Por
6 votos a 5, os ministros do Supremo autorizaram o Senado a devolver a Aécio o
mandato e anular sanções impostas ao senador tucano por uma turma da própria
Suprema Corte. Um ano antes, os ministros tinham decidido o contrário num
processo envolvendo Eduardo Cunha. Afastaram-no da presidência da Câmara e do
exercício do mandato. Por causa disso, Cunha foi cassado, preso e condenado por
Sérgio Moro. Não saiu mais da cadeia.
Os
ministros que estenderam a mão para Aécio sustentam que o Supremo não foi
contraditório ao ignorar que tratara Cunha a pontapés. Faz sentido. Não é que a
Corte máxima do Judiciário brasileiro seja incoerente, apenas possui
jurisprudência múltipla. O frequentador de boteco também não é contra o roubo.
O que ele não suporta é a ideia de continuar sendo roubado por aqueles que
foram eleitos para representá-lo.
Embora
não ignorassem que o refresco servido a Aécio seria replicado nos Estados, os
ministros do Supremo reclamam do mau uso do precedente. Ainda não se deram
conta do papelão em que se meteram. Magistrado que se queixa da aplicação da
jurisprudência que ajudou a criar é como um comandante de navio que reclama do
mar.
O
Supremo terá de operar uma mágica retórica para atender aos pedidos da
procuradora-geral Raquel Dodge. São conhecidas as histórias de gente tirando
gênios da garrafa. Mas ainda não se ouviu nada a respeito de gente obrigando o
gênio a fazer o caminho de volta.
Quem
pariu Aécio que embale Picciani. Não será simples. É como se o cozinheiro de um
botequim prometesse desfrutar um ovo na frente dos frequentadores do
estabelecimento. Como ninguém conseguiu realizar semelhante façanha, os
magistrados logo perceberão que a respeitabilidade do Judiciário é como a
virgindade. Perdeu está perdida. Não dá segunda safra.
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