BALADA DOS CASAIS
Os
casais são tão iguais,
por
isto se casam
e
anunciam nos jornais.
Os
casais são tão iguais,
por
isto se beijam
fazem
filhos, se separam
prometendo
não
se casarem jamais.
Os
casais são tão iguais,
que
além de trocar fraldas,
tirar
fotos, acabam se tornando
avós
e pais.
Os
casais são tão iguais,
que
se amam e se insultam
e se
matam na realidade
e
nos filmes policiais.
Os
casais são tão iguais,
que
embora jurem um ao outro
amor
eterno
sempre
querem mais.
Às
vezes ocorre
um
autor estar aquém
da
criação.
O
texto-sábio
criando
asas
e o
autor pastando
grudado
ao chão.
—
Como pode um peixe vivo
estar
aquém do próprio rio?
—
Que coisa é esse bicho
que
rompe as grades do circo
e se
lança na floresta
no
descontrole de fera?
—
Que coisa é essa
que
se enrola?
É
fumaça? ou texto?
que
se alça do carvão?
Lá
vai o poema ou trem
que
larga o maquinista
na
estação
e se
interna no sertão.
Ali
o poema
olhado
de binóculo
— só
de longe tocado —
e o
autor, falso piloto
largado
na pista ou salas
do
aeroporto, atrás do vidro,
enquanto
o texto
levanta
seu vôo cego
com
o radar da emoção.
Enfim,
um
poema que vira pássaro
onde
termina a mão
ou
avião desgovernado
que
ilude o autor e a pista
e
explode na escuridão.
Affonso Romano de Sant'Anna
(Belo Horizonte MG 1937).
Poeta, crítico e
professor de literatura e jornalista.
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