EIS O NOVO
DILEMA:
COM OU SEM
PORTEIRA FECHADA?
A obsessão de Temer é obter
votos no Congresso, não
garantir a moralidade ou a
eficiências das políticas públicas
Por Josias de Souza
16/11/2017 – 04h17
Como
previsto, Michel Temer recuou da ideia de trocar antes do Natal os 17 ministros
que devem pedir votos em 2018. Fará “ajustes pontuais” na Esplanada, de modo a
saciar os apetites do centrão. E empurrará o grosso da reforma para o final de
março, na fronteira do prazo legal para que os candidatos deixem os cargos.
Definida essa regra preliminar, Temer está às voltas com um novo dilema: como
entregar os ministérios aos partidos, com ou sem porteira fechada?, eis a
questão.
No idioma da
fisiologia, a exigência de “porteira fechada” significa que o partido
contemplado deseja receber o ministério como um fazendeiro que arremata uma
propriedade rural com o gado dentro. Temer esboça resistência. Num caso
concreto, o presidente resiste à ideia de entregar ao PP toda a estrutura do
Ministério das Cidades, de cima a baixo. Prefere esquartejar a máquina, dando
um pedaço a cada legenda.
Levando-se o
critério do esquartejamento às raias do paroxismo, Temer conseguiria contemplar
pelo menos cinco partidos na pasta das Cidades. O PP ficaria com a poltrona de
ministro e cederia a apadrinhados de legendas coirmãs as quatro secretarias do
organograma: Desenvolvimento Urbano, Habitação, Mobilidade Urbana e Saneamento.
Não há o menor perigo de dar certo. Mas essa é outra história. A obsessão de
Temer é obter votos no Congresso, não garantir a moralidade ou a eficiência das
políticas públicas.
Por ironia,
deve-se ao próprio PP, campeão no ranking de enrolados no petrolão, a condução
do linguajar do fisiologismo para o ambiente agropastoril. Foi em 2005, sob
Lula, que a legenda passou a exigir ministérios de “porteira fechada”. Fez isso
depois de eleger o então deputado Severino Cavalcante (PP-PE), de notável
reputação, à presidência da Câmara. A moda pegou. Mas Lula e Dilma, sempre que
podiam, fatiavam as estruturas ministeriais. O partido que mais se queixava era
o PMDB de Temer.
Até aqui,
Temer vinha cultuando a tradição da porteira fechada. Informada sobre a
tendência do presidente de aderir à teoria do esquartejamento, a cúpula do PP
parece conformada. Tende a negociar. Ganha um estábulo no organograma das
Cidades quem conseguir identificar no lero-lero sobre a reforma ministerial uma
ideia ou proposta capaz de melhorar a prestação de serviços à sociedade.
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