TOFFOLI: "VOU MELAR ESSE JOGO" Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF |
SUPREMO REVELA TENDÊNCIA
À AUTODESMORALIZAÇÃO
É possível concluir, sem qualquer margem para dúvidas,
que o Supremo caminha para igualar-se em desmoralização
ao Legislativo e ao Executivo. Com uma diferença: os políticos
foram
arrastados para o caldeirão pela Lava Jato. O Supremo pula
no melado ardente
voluntariamente
Por Josias de Souza
https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/
23/11/2017 18:52
A questão é de enorme relevância. E deveria preocupar a todos.
Tomado por suas decisões mais recentes, o Supremo Tribunal Federal tomou gosto
pelo comportamento de alto risco. O pedido de vista do ministro Dias Toffoli,
que interrompeu o julgamento sobre a restrição do foro privilegiado, confirma
uma estonteante tendência para a autodesmoralização.
Muita gente está empenhada em chamar a atenção do Supremo. Foi assim
no caso do afastamento meia-sola de Renan Calheiros da linha sucessória da
Presidência da República. Os alertas soaram também quando o STF lavou as mãos
no caso de Aécio Neves. Mas isso parece agravar a situação. Quanto mais se
critica a Suprema Corte, mais desmoralizada ela se empenha em ficar.
A instância máxima do Judiciário brasileiro demonstra uma
incapacidade atroz de resistir aos impulsos autodestrutivos. Já é possível
concluir, sem qualquer margem para dúvidas, que o Supremo caminha para
igualar-se em desmoralização ao Legislativo e ao Executivo. Com uma diferença:
os políticos foram arrastados para o caldeirão pela Lava Jato. O Supremo pula
no melado ardente voluntariamente.
Por 7 votos a 1, prevaleceu a posição do ministro Luís Roberto
Barroso. Por esse voto, o foro privilegiado valerá apenas para os crimes
cometidos durante o exercício do mandato, se tiverem alguma relação com o
exercício da função pública. Dito de outro modo: o privilégio seria exceção.
Como regra geral, todos seriam igualados perante a lei. Ao pedir vista, sabe-se
lá em nome de quais interesses!, Dias Toffoli comportou-se como menino dono da
bola que interrompe uma partida que perdia de goleada.
Aos pouquinhos, vai se solidificando a impressão de que um pedaço do
Supremo opera para oferecer proteção a malfeitores. Foi à lata do lixo todo o
prestígio que a Suprema Corte amealhara no julgamento do mensalão. Mas não se
deve dizer isso em voz alta. Aí mesmo é que o Supremo pode atear fogo às togas.
Impossível prever o comportamento de um suicida.
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