Jantar no Alvorada: boca cheia, bolsos furados Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República/Divulgação |
TEMER JOGA R$ 15 BI NO RALO.
E APREGOA O COLAPSO
Mal comparando, Temer vai ganhando a aparência
do sujeito que vende o carro para comprar gasolina
Por Josias de Souza
https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/
23/11/2017 | 05:31
Os deputados que aceitaram o convite de Michel Temer para jantar no
Alvorada na noite passada foram submetidos a uma atmosfera indigesta. Ecoado
pelo ministro Henrique Meirelles (Fazenda) e por economistas como Marcos
Lisboa, o anfitrião trovejou sobre os comensais previsões apocalípticas. Temer
declarou no discurso de abertura que a economia sofrerá um “colapso” se a
reforma da Previdência não for aprovada. Horas antes, o orador autorizara sua
infantaria legislativa a aprofundar o rombo previdenciário em pelo menos mais R$ 15 bilhões.
Enquanto os deputados digeriam a versão lipoaspirada da proposta
previdenciária, exposta no Alvorada pelo relator Arthur Maia, o Congresso,
reunido em sessão conjunta da Câmara e do Senado, derrotava o presidente.
Derrota consentida por Temer. A pretexto de obter o apoio de prefeitos à
reforma, o presidente concordara com a derrubada de um veto de sua autoria. Com
isso, foi ressuscitada uma mágica chamada “encontro de contas”. Prevê que
prefeituras penduradas na Previdência poderão abater de suas dívidas os
créditos que afirmam ter no governo.
O veto de Temer havia sido encomendado pela equipe econômica. A
perda de R$ 15 bilhões é uma
estimativa otimista. Numa conta mais salgada, feita pela Confederação Nacional
dos Municípios, estima-se que a renegociação reduza as dívidas das prefeituras
em até 50%. O espeto cairia de R$ 75
bilhões para algo como R$ 45 bilhões.
Nessa matemática, a União deixaria de receber R$ 30 bilhões.
Com as prefeituras quebradas, esses recebimentos eram incertos, diz
um apologista de Temer. O importante é aprovar a reforma, acrescenta. O diabo é
que nada insinua, por ora, que a Previdência será reformada no atual governo. O
Planalto precisa de pelo menos 308 votos
na Câmara. Auxiliares de Temer sustentam que ele já dispõe de algo como 250 votos. Juram que compareceram ao
jantar do Alvorada quase 200 votos.
Quem esteve no recinto contou algo como uma centena de deputados.
Antes do repasto, o governista Fábio Ramalho (PMDB-MG),
vice-presidente da Câmara, revelou o que enxerga em sua bola de cristal:
“Ninguém vai votar a reforma da Previdência. Se tiver 100 votos é muito.” Para
desassossego de Temer os prefeitos não votam no Congresso. Os governadores, com
quem o presidente almoçou, também já não têm tanta ascendência sobre suas
bancadas. Mal comparando, Temer vai ganhando a aparência do sujeito que vende o
carro para comprar gasolina.
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