Ilustração: Kléber Sales/Estadão |
CONCHAVO TUCANO PROVA
QUE A UNIÃO FAZ A FARSA
Pensando bem, para o tucanato, Geraldinho talvez seja
mal menor. A desgraça é que estamos cheios de mal menor.
Como levar a sério um partido que delega a Zé Aníbal
a tarefa de reescrever sua história?
Em Guajará-Mirim o jogo é outro.
O Zé sabe. O pai dele sabia bem mais. (OS)
Por Josias de Souza
https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/
28/11/2017 | 05:21
Há no caminho do PSDB meia dúzia de problemas: o cadáver político de
Aécio Neves, o processo criminal contra Geraldo Alckmin, a radioatividade de
Michel Temer, o racha interno e a inanição nas pesquisas presidenciais. A
caciquia do tucanato não tem nada a dizer a respeito de nenhum deles. Reunidos
em torno da mesa de refeições do Palácio dos Bandeirantes na noite desta
segunda-feira, os pajés emplumados jantaram pizza, firmaram um conchavo e
varreram as pendências para baixo do tapete.
Tasso Jereissati e Marconi Perillo, que guerreavam pela presidência
do partido, depuseram as armas. Num acerto intermediado por Fernando Henrique
Cardoso, concordaram em entregar o comando da legenda a Geraldo Alckmin, para
que ele pavimente sua candidatura presidencial. O problema é que o PSDB
continuará fazendo política em cima do tapete. E as encrencas acobertadas não
ficarão imóveis. O Brasil já não é um país de bobos. Mas os tucanos ainda não
notaram que sua presunção de superioridade perdeu o prazo de validade.
No dia 9 de dezembro, reunido em convenção nacional, o tucanato
escolherá um novo presidente para o PSDB. Se tudo correr como foi planejado,
Alckmin será aclamado. E não será por isso que Aécio deixará de feder, que o
processo contra Alckmin irá desaparecer, que Temer ficará menos tóxico e que a
fenda partidária se fechará. Ninguém dirá ao Ibope ou ao Datafolha que
simpatiza com o presidenciável de um partido que, 15 anos depois de ter sido
retirado do Planalto, continua acorrentado a uma agenda enferrujada.
Presidente licenciado do PSDB, Aécio teve 51 milhões de votos na
eleição presidencial de 2014. Hoje, não sabe se os mineiros lhe dariam um
mandato de deputado. Deve ser substituído na briga pelo Planalto por Alckmin.
Ele já disputou a Presidência da República em 2006. Perdeu no segundo turno
para Lula. Nessa época, sua rejeição rodava na casa dos 17%. Hoje, roça os 30%.
De resto, frequenta as pesquisas como um sub-Bolsonaro. As intenções de voto em
seu benefícios oscilam entre 6% e 8%.
Há um consenso no PSDB em torno da crença de que Alckmin precisa
migrar do fundo da loja para a vitrine se quiser viabilizar-se eleitoralmente.
O problema é que, antes de fazer o movimento, o candidato precisa limpar a
ferrugem do bico. Sua atitude em relação às pendências morais que rondam o
tucanato instruirão o julgamento que a plateia fará de suas pretensões. Suas
palavras ofececerão uma ideia do que faria se descalabros éticos acontecessem
quando estivesse na poltrona de presidente.
O silêncio imperial e a inércia não são as melhores respostas para o
achaque de R$ 2 milhões praticado por Aécio contra Joesley Batista. A omissão
tampouco responde à pergunta de R$ 10,7 milhões que os delatores da Odebrecht
empurraram para dentro do processo que tramita no STJ contra Alckmin: o que
diabos foi oferecido em troca do dinheiro que escorregou do caixa do
departamento de propinas da empreiteira para as mãos intermediárias de Adhemar
César Ribeiro, o cunhado do governador de São Paulo?
Nesta terça-feira, o Instituto Teotônio Vilela, braço acadêmico do
PSDB, lançará um documento intitulado ‘Gente em Primeiro Lugar: o Brasil que
Queremos.’ Foi feito com a pretensão de servir de matéria-prima para a
elaboração de um projeto para o país. Enquanto o PSDB não sacudir o tapete que
oculta todas as suas pendências, a plateia talvez enxergue no título do
papelório programático o nome mais criativo já inventado para definir conversa
fiada.
Se
a pizza servida no Palácio dos Bandeirantes na noite passada serviu para alguma
coisa foi para demonstrar que, no PSDB, a união faz a farsa. A melhor coisa que
poderia acontecer ao tucanato no momento seria o prefeito de Manaus, Arthur
Virgílio Neto, desafiar o conchavo de São Paulo insistindo na realização de
prévias. Virgílio também rumina pretensões presidenciais. Seria divertido
assistir a um ciclo de debates entre o prefeito e o governador.
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