Não há democracia sem política |
DEMOCRACIA
E POLÍTICA
Nascemos como um
empreendimento e não como nação,
e se não fosse Napoleão,
teríamos nos dividido em republiquetas
Por Murillo de Aragão (*)
16/11/2017 - 01h25
É tenso, uma
vez mais, o momento político que vivemos. A inflação está sob controle, as
reformas avançam e a economia volta a crescer. Mas a popularidade do presidente
é baixa, a questão fiscal domina a agenda e o cenário sucessório é nebuloso. Intensa
contradição.
Nessas horas
de angústia, nossa inclinação é, na busca precipitada de uma solução, pôr na
mesa aquela discussão que vai e volta sobre nosso modelo de governança. Ou
seja, o sistema político de acordo com o qual organizamos a gestão do estado. O
parlamentarismo é sempre a alternativa em vista.
Antes de
tudo, porém, cabem algumas reflexões a respeito de nossas origens, temperamento
e condução atual. Para começo de conversa, não somos uma democracia no sentido
moderno nem temos uma boa política na rotina de nossas decisões. Por quê? Nos
faltam instituições e, antes mesmo dessas, nos faltaram líderes que nos
conduzissem a uma patamar institucional mais sólido.
Como
resolver o dilema da democracia inexistente e da má política predominante? Não
existe resposta fácil ou já teríamos chegado a ela. Pensando bem, a verdade é
que nossa origem não é das melhores. Nascemos como um empreendimento e não como
nação, e se não fosse Napoleão, teríamos nos dividido em republiquetas.
A fuga da
Família Real de Portugal para o Brasil nos deu uma chance que, felizmente, não
foi desperdiçada. A oportunidade proporcionada pela história resultou na
criação de um país.
Situados
pela geografia longe do centro dos acontecimentos, fomos poupados de uma
sequência de tragédias mundiais, mas não deixamos de criar problemas para nós
mesmos. Hoje, a instabilidade ora econômica ora política é um deles, talvez o
mais forte, uma pedra no caminho sempre que supomos haver tomado finalmente um
rumo.
Então,
voltamos sempre ao desafio proposto, jamais atingido: como fortalecer nossa
democracia? O primeiro passo é reconhecer que ela é um objetivo cuja consecução
exige participação. O segundo é constatar que a maneira de se chegar à
democracia é trilhar a via política.
Assim, o
fortalecimento de nossa democracia passa pela atuação da sociedade em
diferentes modalidades de ação que vão além do voto, das manifestações, do
debate. É trabalhoso construir a democracia. Quando se dá prioridade à
educação, quando se reconhece a urgência das reformas, quando se abre espaço
para a iniciativa privada estamos construindo a democracia.
Não podemos
fugir da política como ferramenta para isso e sem melhorar o nível da atividade
politica o lugar onde chegaremos estará dissociado da nação. A participação na
política não significa candidatar-se, obrigatoriamente, a cargos públicos. Pode
se revelar na escolha mais cuidadosa dos candidatos, na avaliação da
credibilidade das promessas de campanha e no equilíbrio e bom senso das
propostas e ideias defendidas.
Exige também
uma atitude mais responsável da cidadania frente ao noticiário da mídia
impressa e eletrônica e à qualidade da informação que circula pelas redes
sociais. Valores fundamentais do mundo, que impactam nas eleições, na justiça,
na própria organização da sociedade. É daí que têm surgido os fundamentos da
reforma da democracia.
Precisamos
persegui-la com muita disposição. Precisamos cuidar do homem em primeiro
lugar. Enquanto não vivermos como o
poeta amazonense Thiago de Melo propunha – “Fica decretado que o homem não
precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem, como a
palmeira confia no vento” – devemos duvidar.
(*) Murillo de Aragão é cientista político
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