OS INSEPARÁVEIS PODERES
Quando os poderes e órgãos de controle do estado
são dominados por um mesmo grupo de interesses,
inexiste separação de poderes.
Ou estado democrático de direito
Por Joaquim Falcão
Blog do Noblat
19/11/2017 - 02h35
As denúncias contra o presidente Picciani são por atos continuados.
Atos que vêm sendo cometidos há muito tempo. As denúncias contra Cabral também.
São por atos de muito tempo. Há muito tempo é a inação do Tribunal de Contas do
Estado. Igual muito tempo são as denúncias que não vieram do Ministério Público
Estadual. E por aí vamos.
No Rio, o tempo tem sido o senhor dos silêncios. Continua, com a
decisão da Alerj.
Carlos Drummond tudo explica em sua poesia: “João amava Tereza que
amava Raymundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava
ninguém e casou com João Pinto Fernandes que não tinha entrado na história”.
Ou seja, o governador amava a cúpula da Alerj, que amava o
governador, ambos amavam um Ministério Público Estadual necessário mas inerte,
e um Tribunal de Justiça preocupado com aumentos salariais. Todos amavam o
Tribunal de Contas do Estado, que por si próprio inexistia.
Apareceram então Lava-Jato, Ministério Publico Federal e Justiça
Federal que não tinham entrado na história. E não amavam nenhum.
Quando os poderes e órgãos de controle do estado são dominados por
um mesmo grupo de interesses, inexiste separação de poderes. Ou estado
democrático de direito.
O regime de 1964, por exemplo, resultou de um pacto entre os
militares, grandes empresas, setores dos trabalhadores industrializados, que
passaram a controlar os três poderes. Acabaram com a democracia.
Poderes constitucionais podem ser formalmente separados, e
politicamente inseparáveis. É o que aconteceu e acontece no Rio de Janeiro.
Quem apenas escuta a forma, não vê o batimento do coração.
No Rio, impera ainda o pacto de há muito tempo entre os três poderes
do estado, órgãos de controle, empresas fantasmas, grandes empreiteiras,
joalherias.
A meta foi o controle do tesouro e cargos do governo. O cimento foi,
no setor privado, a substituição da competição empresarial pelo ineficiente
compadrio capitalista. A fraude nas licitações.
No setor público, aumentos salariais, adicionais ilegais, cargos
desnecessários expandindo as corporações do Executivo, Legislativo, Judiciário
e Ministério Público.
Este pacto esconde o pior. Ele resultou, direta ou indiretamente, do
voto do eleitor. Será que assim continua em 2018?
O eleitor será apenas o observador da decadência do Rio? Ou seu
agente de transformação moral, indispensável para recuperar sua competitividade
econômica?
A propósito. O nome da poesia de Drummond é: Quadrilha.
Joaquim Falcão é professor
da FGV-Direito Rio.
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