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PROCURA-SE
CANDIDATO DISRUPTIVO
Por Jose Roberto de Toledo
16/11/2017
É insano o
caminho para Luciano Huck viabilizar sua candidatura a presidente. Os primeiros
eleitores que ele ainda precisa conquistar são os mais próximos: a mulher, o irmão,
o patrão. A Globo lhe deu até o fim de dezembro. Se nem ele nem Angélica
aparecerem na grade de programação da emissora para 2018 é porque Huck estará
filiado ao PPS e pronto para se lançar em campanha. É salto sem volta. Dará
adeus ao “Caldeirão”, mas não só ele fará sacrifícios.
Com 30 anos
de carreira e sucesso como apresentadora de TV, Angélica terá que ser
convencida pelo marido a abandonar seu “Estrelas” e a nova atração que deveria
estrear em 2018. Em troca, estrelaria algum programa herdado de Marcela Temer.
Na melhor das hipóteses.
Se Huck
vender o plano à esposa terá dado sinal de que é capaz de negociar com o
Congresso sem perder a carteira.
Como
animador de auditório, não falta popularidade a Huck. Mas para chegar aos 12%
de intenção de voto como candidato a presidente – taxa que políticos
interessados na sua candidatura andam ventilando – é preciso que nem Lula nem
Bolsonaro apareçam no cartão das pesquisas. Com ambos no páreo, o apresentador
fica, hoje, junto dos outros índios da tribo do dígito solitário. Se equipara a
Alckmin.
Não é fácil
virar cacique. Para emplumar seu cocar na disputa presidencial, Huck precisará
de um compromisso mais sério por parte de amigos financiadores do que o
protocolar tapinha nas costas e incentivos do tipo “vai indo que eu já vou”.
Sua campanha a presidente por um partido tão pequeno quanto o PPS dependerá de
muitas doações de pessoas físicas endinheiradas – mesmo se o candidato recorrer
ao próprio bolso para se financiar.
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO é jornalista. Escreve uma coluna semanal sobre política no Estado, coordena o Estadão Dados e é presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo |
Segundo
cálculos do repórter Daniel Bramatti, PT e PSDB terão direito a sete vezes mais
recursos do novo fundo eleitoral do que o PPS – porque tiveram muito mais votos
e elegeram muito mais deputados na eleição passada.
A diferença
é de mais de R$ 220 milhões para os tucanos, e mais de R$ 230 milhões para os
petistas. Somando-se fundo partidário e fundo eleitoral, o PPS não deverá ter
R$ 60 milhões para 2018. E esse dinheiro ainda terá que ser dividido com
candidatos a governador, ao Senado e à Câmara. Sem eleger bancada própria de
deputados federais e senadores, qualquer presidente vira refém do Congresso.
Além de
políticos, Huck cercou-se de PhDs idealistas, financistas e marqueteiros para
ajudá-lo a formular um programa de governo e uma estratégia de campanha. Nada
disso, porém, substitui o apoio doméstico e patronal.
Na mesma
semana em que Huck ouviu da Globo que seu deadline
para decidir se fica ou se sai candidato é dezembro, caciques do PSB ouviram de
Joaquim Barbosa que ele lhes dará resposta em janeiro. A coincidência de datas
animará as especulações eleitorais de fim de ano. E se Huck pular de volta no
Caldeirão? Barbosa ficará mais inclinado a dizer sim à proposta de disputar a
eleição?
Segundo o
repórter Raymundo Costa, o algoz de mensaleiros voltou a cogitar ser candidato
à sucessão de Temer. Poréns que valem para Huck valem para Barbosa: falta de
tempo de propaganda e recursos partidários escassos. Mas nem todos os poréns.
Como
candidato togado, o ex-presidente do Supremo seria tão disruptivo quanto Huck.
As pesquisas de potencial de voto mostram que ele pode se apresentar como
antiLula e antiBolsonaro e tentar ocupar o vazio do centro. E isso sem ser
automaticamente rotulado de “candidato da Globo”.
Se não
termina em 7 de abril, a temporada de candidaturas-balão estará bem mais pobre
após essa data-limite de filiação e desincompatibilização. Até lá, porém, o
balonismo eleitoral será esporte nacional.
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