CAMBISTAS: A POLÍCIA FINGE QUE PRENDE |
BICHO SOLTO
Os bicheiros que vemos todo dia em suas cadeiras
na calçada poderão continuar anotando apostas,
mas em maquinetas eletrônicas ligadas
à central de loterias da Caixa
Nelson Motta
O Globo – 17/11/2017
Do desespero para sairmos do buraco fiscal nascem propostas para a
legalização de bingos e cassinos no Brasil, com discreta aprovação do governo.
Mas, apesar dos lobistas que levam parlamentares da bancada do jogo
a Las Vegas e Punta Del Este, no mar de lama do Congresso há “resistências
morais”... rsrs
E o jogo do bicho? Por que ninguém fala em legalizar a secular
diversão popular brasileira?
Claro, os maiores interessados na proibição são os bicheiros, que
mantêm sua máquina de poder, e os políticos que ajudam a eleger, os policiais e
juízes que corrompem.
Não dá para continuar gastando os preciosos tempo e dinheiro da
polícia na farsa da “contravenção”, em que a polícia finge que prende e o
contraventor finge que é preso, para que tudo continue como está: o jogo do
bicho como fonte inesgotável de corrupção. E de violência. Nas lutas de
quadrilhas pelos pontos. Na guerra ao bicho, dá burro na cabeça.
Que misteriosas razões permitem apostar em cavalos, mas não em
outros bichos?
Por que o Estado deixa os pobres perderem dinheiro em loterias,
megassenas e raspadinhas, jogos apropriadamente chamados “de azar”, mas
criminaliza o bicho?
O bicho, ao menos poeticamente, tem os sonhos para orientar as
apostas.
Mas não faz sentido legalizar o bicho para entregá-lo aos bandidos
de sempre. Até os privatistas radicais vão concordar que é um raro caso em que
o Estado, que já administra inúmeras loterias, pode assumir a zoológica —
porque já tem estrutura, tecnologia e uma rede nacional eficiente.
Não haverá problema de desemprego: os bicheiros que vemos todo dia
em suas cadeiras na calçada poderão continuar anotando apostas, mas em maquinetas
eletrônicas ligadas à central de loterias da Caixa, emitindo talões com a nova
garantia: vale o digitado.
Mas neste governo, como em governos recentes (Geddel foi
vice-presidente de loterias da Caixa com Dilma), o maior perigo de estatizar o
bicho é empregar tantos burocratas e afilhados, gastar tanto em escritórios,
salários, carros, viagens, impostos, licitações fraudadas e aditivos, que não
vai sobrar dinheiro para pagar as apostas...
Nelson Motta é jornalista
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