POIS É, QUE PENA |
NA INTERNET, A COMPAIXÃO
É UM SENTIMENTO EM EXTINÇÃO
O caso do submarino mostra que, num Brasil embrutecido
pelo Fla X Flu interminável, talvez não haja mais espaço
para manifestações de solidariedade
Por Augusto Nunes
http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/
24/11/2017 | 11h40
Oito dias depois do desaparecimento do submarino argentino num ponto
do Oceano Atlântico, o mundo ignora se os 44 tripulantes — 43 homens e uma
mulher — continuam vivos. Ninguém sabe se a embarcação ainda existe ou foi
destruída por uma explosão. Nem em que parte do mar há marinheiros implorando
por socorro agarrados à esperança ou corpos à espera de resgate e sepultamento
em terra firme.
Há uma semana, acompanho a saga dos argentinos sumidos no fundo do
mar com angústia e espanto. Angustia-me imaginar o desespero crescente de um
grupo de seres humanos. Espanta-me o pouco interesse despertado pela tragédia
no mundo da internet, que até recentemente reagia com mobilizações imediatas e
portentosas ao topar, por exemplo, com a imagem de alguma baleia encalhada na
praia.
PACIÊNCIA |
Nos grandes sites, posts sobre o drama pavoroso são quase todos
rasos e burocráticos. Seguem-se pouquíssimos comentários — às vezes nenhum. Um
texto publicado no UOL, por exemplo, mereceu uma única observação: o leitor se
declarou indignado com um prosaico erro gramatical cometido pelo redator
anônimo.
Num Brasil embrutecido pelo Fla X Flu interminável e feroz, talvez
não haja mais espaço para manifestações de solidariedade. Essas ondas de
clemência até pouco tempo atrás irrompiam espontâneas e vigorosas, fossem quais
fossem o palco da tragédia e a nacionalidade das vítimas.
Hoje, é penoso constatar que no universo das redes sociais, é o ódio
que mais mobiliza. A cólera epidêmica parece ter transformado a compaixão num
sentimento ameaçado de extinção.
FIZ O QUE (NÃO) PUDE |
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