quarta-feira, 15 de novembro de 2017

POLÍTICA/OPINIÃO: JOSIAS DE SOUZA

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Esplanada dos Ministérios: aqui dá de tudo
Foto: Agência Brasil - EBC

DÉFICIT ÉTICO MARCA A REFORMA
MINISTERIAL DE TEMER

O que vai acontecer não é propriamente uma
troca de ministros. É uma troca de cúmplices

Por Josias de Souza
15/11/2017 – 03h25

Rendido à chantagem do chamado centrão, Michel Temer antecipou sua reforma ministerial. Anuncia para dezembro mudanças que planejava fazer apenas em março de 2018. A julgar pela movimentação observada em Brasília, será uma reforma inqualificável. Portanto, muito fácil de qualificar. O que vai acontecer não é propriamente uma troca de ministros. É uma troca de cúmplices.

Na prática, desenrola-se na Capital da República mais um grande conchavo —  um conluio da falta de pudor de um presidente sem votos no Congresso com a carência de escrúpulos de partidos que se dispõem a apoiar o governo desde que seus apetites fisiológicos sejam saciados mais uma vez. Romero Jucá, líder do governo, estima que serão trocados 17 ministros.

Temer não procura os melhores ministros. Busca os ministros mais rentáveis. Não é o primeiro presidente a fazer isso. Mas é o mais impopular, o que aumenta o preço. Retirado do PSDB, o Ministério das Cidades, por exemplo, irá para o PP — é o partido com o maior número de enrolados no petrolão. Já passou pelo ministério sob Dilma. Notabilizou-se pelas irregularidades. Temer já abriu negociações com o presidente da legenda, Ciro Nogueira, que responde a inquérito por lavagem de dinheiro. Há muitos interesses envolvidos na reforma de Temer. E nenhum deles é o interesse público.





TEMER JÁ ADMITE MUDAR
MINISTÉRIO EM DUAS PARCELAS

Um parlamentar aliado tocou o telefone para um auxiliar de Michel Temer na noite desta terça-feira. Avisou que o presidente atearia fogo no condomínio governista se levasse adiante a ideia de trocar até dezembro todos os ministros que disputarão eleições em 2018. Foi informado de que Temer já cogita parcelar em duas vezes a mexida na Esplanada, deixando um pedaço das mudanças para o final de março.

Em matéria de reforma ministerial, o que Temer diz não se escreve. O presidente jurava que só trocaria ministros no final do primeiro trimestre de 2018, quando a lei obriga os candidatos a deixarem os cargos públicos que ocupam. Pressionado pelos partidos do centrão a se livrar logo dos ministros do PSDB, Temer fincou o pé. Pressionado mais um pouco, passou a admitir a inevitabilidade da reforma.

Ao receber a carta de exoneração do tucano Bruno Araújo, que deixou a pasta das Cidades na segunda-feira, Temer apressou o passo. Declarou a congressistas e ministros, com ares de resolução, que aproveitaria o ensejo para substituir todos os ministros candidatos. Serão 17 trocas, estimou o senador Romero Jucá, líder do governo. O presidente definirá o ritmo, ele acrescentou.

Logo se verificaria que a convicção de Temer tinha a consistência de um pote de gelatina. Ele próprio se deu conta de que sua regra teria de contemplar exceções. Em privado, declarou que seria arriscado retirar Henrique Meirelles do Ministério da Fazenda em dezembro. O “mercado” reagiria mal. Neste caso, o melhor a fazer seria fingir que Meirelles ainda não decidiu se concorrerá à Presidência da República.

Ao farejar o odor de “privilégio”, os governistas cuidaram de enumerar as situações que comportariam outras exceções. Por que mexer com Mendonça Filho antes da hora se ele realiza uma boa gestão no MEC? – perguntam-se os líderes do DEM. Por que retirar precocemente o foro privilegiado de ministros investigados como Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) e Marcos Pereira (Indústria e Comércio)? – indagam-se os correligionários do PSD e do PRB. Por que bulir com Fernando Coelho Filho (Minas e Energia) num instante em que ele se esforça para colocar em pé o modelo de privatização da Eletrobrás? De exceção em exceção, a própria disposição de Temer de antecipar toda a reforma para dezembro converteu-se num ponto de interrogação. (JS)
  

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