Imagem: Fernando Botero |
Não
sei com vocês, amigos, mas comigo é sempre assim: anoto tudo no papel – da
quantidade diária de calorias a ser consumida aos minutos que não andarei.
Preparo potes e potes de gelatina e pudins – diets, evidentemente –, cozinho legumes
e carnes magras, reservo e congelo. Encho e ponho para gelar pelo menos cinco
litros de água com e sem gengibre, deixo meus “fitos” às mãos, faço orações, rego
a comigo-ninguém-pode. Tudo prontinho, hora de começar a dieta. Amanhã.
Quando
o amanhã finalmente chega, me pega animado que só. Em geral, nos dois primeiros
dias, supero de longe todas as expectativas. Consumo muito menos que o planejado.
Agora, vai? Não vai. No terceiro dia, quando muito no quarto, uma ira insana
se apossa desse corpanzil trêmulo. Viver? Que sentido faz uma coisa dessas, nessas
condições de privação quase absoluta? O ser humano é um desgraçado que se empanzina
a valer de tudo o que engorda – na minha frente, ao vivo ou pela tevê. Faz de
propósito. Mas tudo passa. No sétimo dia – em geral, após espiadela no espelho
do quarto –, uma baita frustração me toma de assalto. Já não consigo sequer
ficar irado. Choramingo. Tanto sacrifício em vão, todas as ilusões perdidas. Se
é para ser infeliz, melhor ser gordo. Ponto final. Que mal há em comprar um
número mais confortável? Ora, a vida foi feita para ser comida e bebida. Estou
longe de ser um menino. Lutar contra a natureza pra quê?
A
madrugada retrasada me trouxe um sonho. Botero – o grande Botero – me ligou e
disse que queria me contratar. Como modelo. Acordei pimpão, aliviado, encarei o
maldito espelho, fiz poses, tomei uma resolução: vou escrever para o mestre, me
colocando à sua inteira disposição. Na juventude, fui vaidoso. Dizem até que não era de se jogar fora. Manequim depois de velho? Por que não? Vai ser duro manter a boca fechada, não dizer palavra, a exemplo dos personagens de Botero? Claro que sim. Mas
qual ofício não tem seus ossos? E com a
barriga cheia – cá entre nós – tudo segue melhor.
Hoje, o café da manhã foi pra lá de supimpa. De rei. Almoço e jantar também prometem. A meta agora é outra: não posso perder peso. Afinal, Botero me aguarda. (OS - Atualizado em novembro de 2017)
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COXINHA? NÃO. JURUBEBA QUER PINGA
Jurubeba – o morador de rua mais famoso de Vila Invernada – parou na porta do bar do Carneiro. Não disse palavra. Nem precisava. Seus olhos embotados suplicavam por cachaça. É como se rogassem: “Uma dose por Deus”... Por Orlando Silveira
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Hoje, o café da manhã foi pra lá de supimpa. De rei. Almoço e jantar também prometem. A meta agora é outra: não posso perder peso. Afinal, Botero me aguarda. (OS - Atualizado em novembro de 2017)
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