segunda-feira, 6 de novembro de 2017

SABE A ÚLTIMA? VOU SER MODELO. DE BOTERO

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Imagem: Fernando Botero

Não sei com vocês, amigos, mas comigo é sempre assim: anoto tudo no papel – da quantidade diária de calorias a ser consumida aos minutos que não andarei. Preparo potes e potes de gelatina e pudins – diets, evidentemente –, cozinho legumes e carnes magras, reservo e congelo. Encho e ponho para gelar pelo menos cinco litros de água com e sem gengibre, deixo meus “fitos” às mãos, faço orações, rego a comigo-ninguém-pode. Tudo prontinho, hora de começar a dieta. Amanhã.


Quando o amanhã finalmente chega, me pega animado que só. Em geral, nos dois primeiros dias, supero de longe todas as expectativas. Consumo muito menos que o planejado. Agora, vai? Não vai. No terceiro dia, quando muito no quarto, uma ira insana se apossa desse corpanzil trêmulo. Viver? Que sentido faz uma coisa dessas, nessas condições de privação quase absoluta? O ser humano é um desgraçado que se empanzina a valer de tudo o que engorda – na minha frente, ao vivo ou pela tevê. Faz de propósito. Mas tudo passa. No sétimo dia – em geral, após espiadela no espelho do quarto –, uma baita frustração me toma de assalto. Já não consigo sequer ficar irado. Choramingo. Tanto sacrifício em vão, todas as ilusões perdidas. Se é para ser infeliz, melhor ser gordo. Ponto final. Que mal há em comprar um número mais confortável? Ora, a vida foi feita para ser comida e bebida. Estou longe de ser um menino. Lutar contra a natureza pra quê?

A madrugada retrasada me trouxe um sonho. Botero – o grande Botero – me ligou e disse que queria me contratar. Como modelo. Acordei pimpão, aliviado, encarei o maldito espelho, fiz poses, tomei uma resolução: vou escrever para o mestre, me colocando à sua inteira disposição. Na juventude, fui vaidoso. Dizem até que não era de se jogar fora. Manequim depois de velho? Por que não? Vai ser duro manter a boca fechada, não dizer palavra, a exemplo dos personagens de Botero? Claro que sim. Mas qual ofício não tem seus ossos?  E com a barriga cheia – cá entre nós – tudo segue melhor. 

Hoje, o café da manhã foi pra lá de supimpa. De rei. Almoço e jantar também prometem. A meta agora é outra: não posso perder peso. Afinal, Botero me aguarda. (OS - Atualizado em novembro de 2017)

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COXINHA? NÃO. JURUBEBA QUER PINGA

Jurubeba – o morador de rua mais famoso de Vila Invernada – parou na porta do bar do Carneiro. Não disse palavra. Nem precisava. Seus olhos embotados suplicavam por cachaça. É como se rogassem: “Uma dose por Deus”... Por Orlando Silveira


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