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NÃO VALEM A BRIGA
O perigo é os inocentes continuarem
brigando entre si
por aqueles políticos que no final se
entendem e se
desentendem conforme suas próprias
conveniências
Por Zuenir Ventura
O Globo – 11/11/2017
Vendo a foto de Lula
sorridente entre Renan Calheiros e o filho, como se fossem velhos amigos, e
lendo dias depois o relato da briga de Aécio Neves com seu companheiro Tasso
Jereissati, a quem destituiu do comando interino do partido e foi por este
acusado de apoiar o “fisiologismo do governo Temer” (o vice na chapa de Dilma
que em 2014 derrotou o então candidato do PSDB, que é o mesmo gravado por
Joesley Batista, dono do frigorífico JBS, pedindo R$ 2 milhões, dá pra
entender?), a gente se dá conta de quanto a velha prática política,
independentemente de siglas, é responsável pelos nossos tempos de cólera.
Os efeitos visíveis
são a intolerância e o ódio rompendo relações, abalando ligações familiares e
criando um embate na sociedade manipulado por lideranças, em que os desafetos
políticos de ontem são os afetos de hoje e vice-versa.
Em algumas famílias o
assunto teve que ser proibido na mesa do jantar. Conheço o caso de uma amizade
de mais de meio século que só não se rompeu definitivamente porque uma das
partes alegou, para mantê-la, que não teria tempo para construir outra com a
mesma duração.
Deixei de ser ingênuo
o bastante para saber que não é de agora que em política só há interesses, às
vezes até legítimos.
Nesse jogo, a
negociação é inevitável, e as divergências são naturais numa democracia. O
problema é o que se negocia, é a transgressão dos limites éticos, é o toma lá
dá cá, o troca-troca a qualquer preço, literalmente — como, por exemplo,
aconteceu para que o presidente Temer conseguisse se livrar na Câmara dos
Deputados da segunda denúncia, para só citar esta, por obstrução da Justiça e
organização criminosa.
O nível das transações
foi dado pela predominância da linguagem usada, mais própria de outras páginas.
Falava-se nos bastidores em compra e venda de votos, chantagem, dívidas,
pagamentos, como se os nossos representantes estivessem numa feira.
Como a campanha para
as eleições do ano que vem já começou, a nova moda deverá ser a
“reconciliação”, inaugurada por Lula com sua declaração de que “perdoa os
golpistas”. Seria até louvável, se esses impulsos de reatamento, de “fazer as
pazes”, fossem sinceros, edificantes, motivados por sentimentos legítimos, e
não gestos de oportunismo de pré-candidatos em busca de apoios — novos e os que
foram perdidos.
O perigo é os
inocentes continuarem brigando entre si por aqueles políticos que no final se
entendem e se desentendem conforme suas próprias conveniências. Eles não valem
a briga.
Zuenir Ventura é
jornalista
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