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FHC DEFENDE QUE PSDB
SAIA DO GOVERNO TEMER
A posição subalterna do PSDB já é algo consolidado.
O partido escreve uma página melancólica de sua história
Por Josias de Souza
UOL – 05/11/2017 – 04h
Fernando Henrique Cardoso, grão-mestre do tucanato, quer ver o seu
partido longe de Michel Temer. Em artigo veiculado neste domingo, FHC anotou
que os tucanos precisam “passar a limpo o passado recente”, aprofundar o
“mea-culpa”, pacificar suas “facções internas” e descer do muro para encarar o
seu dilema: Ou o PSDB desembarca do governo em dezembro ou se confundirá com o
PMDB, tornando-se definitivamente um ator coadjuvante na disputa presidencial
de 2018, disse.
“É hora de decidir e não se estiolar em não decisões”, anotou FHC na
parte final do artigo, veiculado no Globo
e no Estadão. “É hora também de
juntar as facções internas e centrar fogo nos adversários externos.” Sem
renegar o apoio dado à gestão Temer após o impeachment de Dilma Rousseff — “A
transição política exigia repor em marcha o governo federal…”—, FHC desce do
muro para se juntar à parcela antigovernista do ninho.
“Politicamente, há um ponto crítico e alguma decisão deverá ser
tomada: ou o PSDB desembarca do governo na Convenção de dezembro próximo, e
reafirma que continuará votando pelas reformas, ou sua confusão com o peemedebismo
dominante o tornará coadjuvante na briga sucessória.”
FHC talvez não tenha notado. Mas a posição subalterna do PSDB já é
algo consolidado. O partido escreve uma página melancólica de sua história.
Saiu da eleição presidencial de 2014 como maior força política da oposição.
Aécio Neves parecia fadado a virar presidente na sucessão seguinte.
Hoje, o PSDB não chega a ser nem coadjuvante. Perdeu o posto para os
partidos arcaicos do centrão. Virou figurante de um governo dominado pela banda
podre do PMDB, que se divide em duas alas: quem tem mandato está ao lado do
presidente. Quem já não dispõe de foro privilegiado está atrás das grades.
Para FHC, os grandes partidos brasileiros chegam à antessala da
sucessão presidencial arrastando suas bolas de ferro. Ele escreveu a certa
altura: “Não nos enganemos: por mais que as estruturas de poder continuem
ativas, as marcas do que aconteceu nos últimos anos serão grilhões nos pés dos
partidos e candidaturas.”
Acrescentou: “Nem o PT se livrará dos muitos malfeitos que cometeu e
das ilusões que enterrou, nem o PMDB sacudirá a poeira de haver formado parte
não só da onda petista como de seus descaminhos, nem o PSDB deixará de pagar
por ter dado as mãos ao governo Temer e de tê-las chamuscado por inquéritos.”
Defensor do afastamento de Dilma e do apoio a Temer nas pegadas do
impeachment, FHC disse que há argumentos para justificar os dois gestos. Mas se
absteve de enumerá-los. Virou a página: “Daqui por diante, o capítulo é o
futuro. É diante dele que os partidos terão que se posicionar.”
“Segundo FHC, ou o PSDB desembarca do governo
ou se confundirá com o PMDB, tornando-se um ator
coadjuvante na disputa presidencial”
Anotou que “o PT está com a sorte colada à de Lula”. Quanto ao
destino de Lula, disse estar “nas mãos da Justiça.” Condenado por Sergio Moro a
9 anos e meio de cadeia, Lula aguarda o julgamento do recurso que interpôs no
TRF da 4ª Região, em Porto Alegre. Se a sentença de Moro for confirmada, o pajé
do petismo vira um ficha-suja. Pior: pode ser preso.
“Não torço pela desgraça alheia”, escreveu FHC. “Não sou juiz, não
quero e não devo opinar na matéria. Melhor é supor que Lula dispute as próximas
eleições.” O líder máximo dos tucanos dá de ombros para as pesquisas que
acomodam Lula na liderança da corrida sucessória: “Suas chances de vitória não
são grandes.”
Atrasando o relógio, FHC realçou: “Derrotei Lula duas vezes […]. Por
que ganhei? Porque Lula e seu partido se isolaram no que imaginavam ser a
classe trabalhadora, com seus porta-vozes intelectuais. Quando Lula ganhou
minha sucessão [em 2002] foi porque ele e seu partido, com a Carta aos
Brasileiros e outras ações mais, se aproximaram da classe média e saíram do
gueto, alargando sua base de apoio original. Desenhada a vitória e alcançado o
poder, o establishment se juntou aos vitoriosos, sem temor de ser prejudicado.”
Na opinião de FHC, Lula e o PT “voltaram para suas trincheiras
originais.” De resto, chegam a 2018 com o discurso embaralhado: “Tentarão
relembrar os dias gloriosos da bonança econômica para que o eleitorado se
esqueça dos escândalos de corrupção, das desventuras a que levaram a sociedade
e da recessão que produziram na economia. São competidores, portanto,
derrotáveis.”
Ironicamente, FHC expôs a fragilidade do PSDB ao discorrer sobre as
opções a Lula. Não citou nem o governador paulista Geraldo Alckmin, nem a
criatura dele, o prefeito paulistano João Doria. Escreveu que a eventual
derrota de Lula depende “de saber que partidos e líderes formarão os ‘outros
lados’.”
Acrescentou que do lado oposto ao de Lula “poderão estar os que
‘jogam por fora’ dos grandes partidos, como Marina e, em sentido menos
autêntico e mais costumeiro, candidaturas ‘iradas’, tipo Ciro Gomes. Só que no
momento desponta outra candidatura ainda mais ‘irada’ e mais definida no
espectro político, a de Bolsonaro.”
De Bolsonaro, afirmou FHC, “sabemos que é ‘linha-dura’ contra a
desordem e a bandidagem, mas pouco se sabe — ao contrário de Marina — sobre o
tipo de sociedade de seus sonhos (e meus pesadelos…).” O articulista mencionou
até a hipótese de surgir um aventureiro, que chamou de “easy rider”. Mas não se
dignou a citar o nome dos tucanos, que aparecem nas pesquisas com um mísero
dígito.
“FHC pede que a legenda tenha “consideração”
com Aécio Neves, um
personagem que trocou
a biografia de ex-presidenciável por um prontuário”
FHC tampouco citou o ministro Henrique Meirelles, que sonha em
reeditar sua trajetória, migrando da pasta da Fazenda para o Palácio do
Planalto. Incluiu o partido de Meirelles, o PSD, entre as legendas do pelotão
retardatário, que não dispõem de pilotos capazes de subir ao pódio.
Eis o que escreveu FHC: “O PMDB faz tempo que maneja o Congresso e
sabe imiscuir-se na máquina pública, mas não parece ser um time pronto para
disputar a pole position. O DEM, o PSB ou o PSD e os demais não têm nomes
fortes para a cabeça de chapa, embora possam pesar se ingressarem em um
conglomerado que seja ‘centrista’, mas olhe à esquerda, por mais que tal
ginástica custe a alguns deles.”
“E o PSDB?”, perguntou FHC a si mesmo. “Pode apresentar algum nome
competitivo. Mas precisa passar a limpo o passado recente. Deveria prosseguir
no mea-culpa apresentado na televisão sob os auspícios de Tasso Jereissati, sem
deixar de dar a consideração a quem quase o levou à Presidência.”
Quer dizer: Além de não mencionar o nome de Alckmin, um
presidenciável com contas a ajustar na Lava Jato, o grão-mestre do PSDB pede que
a legenda tenha “consideração” com o Aécio Neves, um personagem que trocou a
biografia de ex-presidenciável por um prontuário que inclui nove inquéritos e
R$ 2 milhões repassados pela JBS por baixo da mesa. Nesse ritmo, o PSDB acabará
passando seus desacertos recentes a sujo, não a limpo.
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