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O DECLÍNIO DA
ESQUERDA
O eleitor, desencantado, parece dizer
que aceita qualquer coisa,
desde que não seja o que aí está. O
cenário não é dos mais
promissores, para dizer o mínimo.
Por Ruy Fabiano
11/11/2017 – 01h25
PT e PSDB, que por
décadas simularam um antagonismo de fachada, chegam juntos ao ocaso político.
Enquanto o PT padece as consequências do desastre que impôs ao país, o PSDB,
que lhe oferecia falso contraponto, perde suas referências existenciais.
Sua identidade
vincula-se à do PT, que protagoniza a esquerda carnívora, enquanto os tucanos
posam de socialistas vegetarianos, no melhor estilo da estratégia das tesouras,
concebida por Lênin.
Ambos, porém, são
faces da mesma moeda, que ora sai de circulação, sob o desgaste da Lava Jato e
da debacle institucional do país. Se o povo ainda não sabe o que quer, já sabe,
no entanto, o que não quer. E o projeto esquerdista, lastreado no politicamente
correto, que busca minimizar ou ultrajar os que se lhe opõem, se empenha em
refundar-se sem dispor de lideranças que o renovem.
FHC chegou a dizer que
Luciano Huck, o animador de auditório de TV, representa o novo na política
brasileira. É um diagnóstico de desespero, que expõe o estado de indigência
política do partido.
O nome que despontava
entre os tucanos, João Doria, prefeito de São Paulo, é alvo do fogo amigo, que
cresce na razão direta de sua compulsão marqueteira. Seus maiores detratores
estão dentro de casa – e seu maior concorrente é quem o apadrinhou: o
governador Geraldo Alckmin. Parecem destinados ao abraço dos afogados, já que
imersos num ambiente sem sinais de consenso.
Ruy Fabiano é jornalista |
Lula continua sendo o
único nome no horizonte do PT, mas sua popularidade perde cada vez mais para os
crescentes índices de rejeição. Seu projeto político hoje é escapar da cadeia.
Não é pouco.
Dificilmente
conseguirá registrar sua candidatura, como, aliás, já sinalizou o futuro
presidente do TSE, ministro Luís Fux. Os petistas, por isso mesmo, passaram a
conspirar contra as próprias eleições, como se depreende de reiteradas
declarações da presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann. Sem Lula, disse
ela, as eleições não terão legitimidade. Órfão de candidato, o partido joga no
caos.
Daí o retorno de ações
predatórias, de teor criminoso, cada vez mais violentas, sob o patrocínio do
MST e do MTST, os “exércitos” de Stédile e Boulos, braços armados do partido, a
invadir propriedades e detonar redes elétricas e patrimônio público.
Ambos parecem desejar
uma intervenção militar, dada a estratégia de desafio à lei e à ordem que
protagonizam.
Lula, como se sabe,
prometeu “tocar fogo no país”, sob os auspícios daquelas milícias, caso não
possa se candidatar. Ao que parece, é a única promessa que está disposto a
cumprir.
Os tucanos, antevendo
o drama que ora vivem, tudo fizeram para evitar o impeachment de Dilma
Rousseff. Aderiram aos 44 minutos do segundo tempo, e embarcaram no governo
Temer na expectativa de dominá-lo. Perderam para as raposas do PMDB.
“As eleições de 2018 prometem um vasto
elenco de candidatos,
o que está longe de significar grandes
alternativas ao eleitor.
Quantidade, desta vez, será antônimo
de qualidade”
Coadjuvantes de um
governo que já nasceu fadado à impopularidade, discutem agora se dele devem
desembarcar. Aécio Neves, presidente afastado, às voltas com a Justiça, quer
ficar.
Precisa do
guarda-chuva do Planalto. Tasso Jereissati, que o substituía interinamente,
quer sair. E tem FHC a seu lado - o que, até há pouco, era um trunfo; hoje
talvez já não seja. Aécio, ainda com os poderes formais do cargo, o afastou,
abrindo nova crise, que não tem prazo para acabar – e talvez não acabe nunca.
Alberto Goldmann,
ex-governador paulista e crítico feroz de João Doria, substitui provisoriamente
Tasso e fala em união, vocábulo que, no PSDB, tornou-se uma abstração
metafísica. Marcone Perillo, governador de Goiás, disputará com Tasso a
presidência efetiva, convicto de que nenhum dos dois dará jeito na encrenca.
As eleições do ano que
vem (se o ano realmente vier) já não serão bipolares, como as anteriores.
Prometem um vasto elenco de candidatos, o que está longe de significar grandes
alternativas ao eleitor. Quantidade, desta vez, será antônimo de qualidade.
O descrédito – que vai
dos partidos às urnas eletrônicas – permeia todo o processo, que se antevia
precedido de profunda reforma eleitoral. A reforma não veio - e a esperança de
renovação do país muito menos. O candidato que mais cresce nas pesquisas, Jair
Bolsonaro, evoca no imaginário popular uma ruptura com a conjuntura presente,
seja lá em nome do que for.
O eleitor,
desencantado, parece dizer que aceita qualquer coisa, desde que não seja o que
aí está. O cenário não é dos mais promissores, para dizer o mínimo.
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