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RAÍZES
HISTÓRICAS DA CRIMINALIDADE
Os
problemas se multiplicavam, mas nós queríamos acreditar
que
o crescimento econômico por si só ajustaria as arestas
Por
Bolívar Lamounier
IstoÉ
– 02/11/2017
O
vertiginoso aumento da criminalidade está deixando todo mundo perplexo e
mudando nossas ideias a respeito do País. Nunca tantos brasileiros falaram em
emigrar, e a violência é uma das causas principais desse desejo de ir embora em
definitivo. Para compreender isso, a perspectiva histórica me parece
imprescindível.
Até
por volta de 1950, a população urbana era pequena e mesmo nas cidades a
estratificação era rígida; tanto no lar como nas funções que ocupava e nas
instituições que dirigia, a classe média sabia manter uma certa ordem. Poucas
pessoas possuíam armas. Nessa época, o Brasil abraçou a crença no progresso com
uma ingenuidade difícil de encontrar em outros países. As cidades cresciam
aceleradamente, os problemas se multiplicavam, mas nós queríamos acreditar que
o crescimento econômico por si só ajustaria as arestas. Nossa proverbial
“cordialidade” absorveria todas as pressões. Nesse quadro, o diagnóstico era o
de que a violência era e continuaria baixa, e talvez até decrescesse à medida
que o país se modernizava. Éramos um País abençoado por Deus e bonito por
natureza.
Durante
os 21 anos do governo militar, a criminalidade avolumou-se, mas não se tornou
uma prioridade no debate público. Não entrava no radar dos dois lados em que o
País se dividira. Os militares preocupavam-se em combater os focos de violência
política (a luta armada). Para Maluf, bastava botar mais polícia na rua. A
oposição, cujo grande porta-voz era Montoro, concentrava-se na crítica às
políticas econômicas e sociais do governo. Sem o saber, reeditávamos o debate
clássico de Hobbes contra Rousseau. Enquanto isso, o narcotráfico entrava sem
encontrar resistência e se instalava confortavelmente nas duas principais
cidades, ganhando o controle das favelas e criando uma extensa rede para a
distribuição da droga.
E
assim chegamos à situação atual, caracterizada por uma aguda desproporção de
recursos. Polícias mal pagas, mal armadas e porosas à corrupção enfrentam os
exércitos privados do narcotráfico. Armamento pesado e a droga entram
facilmente por nossas fronteiras. E vivemos na ilusão de combater a oferta sem
combater a procura. Não queremos entender que o consumo sem restrições perpetua
o mercado que interessa ao crime organizado. (BL)
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