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O CANDIDATO
JOAQUIM BARBOSA
O desafio de Barbosa é conciliar suas
afinidades ideológicas,
em sintonia com o petismo, com a fonte de sua
popularidade,
que é justamente ter condenado a conduta dos
petistas no poder
Por Ruy Fabiano
Blog do Noblat – 02/09/2017
As nuvens
da política estão cada vez mais mutantes, sobretudo no que diz respeito à
sucessão presidencial. No início do ano, a lista dos presidenciáveis incluía,
além de Lula, ao menos três tucanos: José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin.
Os dois
primeiros foram deletados pela Lava Jato. E o terceiro corre o sério risco de o
ser por seu próprio pupilo, o prefeito de São Paulo, João Dória, desconhecido
até um ano atrás.
Ambos
juram que não, mas isso, como quase todas as juras em política, significa nada.
Quanto a Lula, nenhuma profecia é possível. Ele mesmo se definiu como uma
metamorfose ambulante, condição acrescida hoje de seis processos e uma
condenação.
Até 2018,
nenhuma profecia é aconselhável ou mesmo possível. Política e profecias não
combinam. Dentro desse ambiente, eis que vem a público o ex-ministro do STF,
Joaquim Barbosa, para, em entrevista ao jornal Valor, ontem publicada, negar sua candidatura, afirmando-a. O
paradoxo é aparente.
A
entrevista, que ocupa duas páginas do jornal, permite ao ex-ministro antecipar
o seu ideário, que seria subscrito, sem hesitação, por um petista ortodoxo.
Outro paradoxo.
O
ex-ministro, afinal, foi um algoz de petistas ilustres no julgamento do
Mensalão. Mas jamais negou sua afinidade ideológica, confessando-se eleitor de
Lula, que o nomeou para o STF, e de Dilma, cujo impeachment não hesita em
chamar de “golpe”.
Não só:
inocenta Lula de todas as acusações e considera que seus ganhos milionários são
lícitos, fruto de suas palestras. Sério.
Não faz
nenhuma menção aos fatos expostos pelo Petrolão. Aliás, como menciona o jornal
– e isso é no mínimo intrigante -, a entrevista foi concedida sob a condição de
que não abordaria três temas: Judiciário, Supremo e Lava Jato. Restou, então, o
quê?
Exato: a
exposição de seu ideário político e críticas de sobra aos tucanos e a Michel
Temer. “Nosso país foi sequestrado por um bando de políticos inescrupulosos que
reduziram nossas instituições a frangalhos. Em nenhum país do mundo um chefe de
governo permaneceria um dia no cargo depois de acusações tão graves quanto
aquelas que foram feitas contra Temer”.
Pode ser.
Mas, acusações por acusações, Temer ainda perde de goleada para Lula, em quantidade
e gravidade – e em provas documentais. E para Dilma também.
Mas
Barbosa despreza esses detalhes. Não faz menção ao fato de que,
independentemente dos delitos que Temer tenha cometido, não fabricou a crise em
que está se afundando.
Recebeu-a
de Lula e Dilma, que reinaram por 13 anos, com práticas como as que ele,
Barbosa, condenou no Mensalão.
Também
omite o fato de que foi Lula quem escolheu Temer e o impôs a Dilma, que sequer
o conhecia. A entrevista faz supor que tudo o que aí está começou com Temer e
em virtude da saída do PT do poder. Temer, no entanto, é o segundo escalão do
PT, eleito pelos que, como o próprio Joaquim Barbosa, votaram em Dilma.
Os afagos
a Lula, a quem sugere que se aposente e não seja mais perturbado pela Justiça,
deixam claro que busca seu apoio para uma candidatura que, sem muita
competência, tenta negar.
RUY FABIANO É JORNALISTA |
“Não sou
hipócrita. Ando nas ruas, nos aeroportos e por onde vou as pessoas me abordam.
Percebo que há esse potencial (de candidato), mas não incentivo, nem tomo
qualquer iniciativa para alimentar isso”. Claro – a não ser entrevistas
eventuais, com pauta pré-estabelecida, como essa do jornal Valor, sem falar em
sua presença constante no twitter, onde tem mais de 500 mil seguidores.
Admite
que tem sido abordado por alguns partidos. Cita “um emissário de Lula”, e
outros do PSB, que tentaram levá-lo aos festejos de 70 anos do partido. Da
festa, declinou, mas nada disse quanto ao que respondeu aos emissários de Lula.
Tem sido também cortejado por Marina Silva, cogitada para companheira de chapa.
O desafio
de Barbosa é conciliar suas afinidades ideológicas, em sintonia com o petismo,
com a fonte de sua popularidade, que é justamente ter condenado a conduta dos
petistas no poder.
Será
necessária uma engenharia política digna de um Maquiavel. Os que o cumprimentam
nas ruas e aeroportos imaginam estar diante do algoz do PT – e se espantarão ao
saber que, inversamente, estão diante de alguém que se propõe a retomar uma
trajetória interrompida pelo “golpe do impeachment”.
Se
conseguir tal façanha, se revelará um gênio da política, alguém que, enfim,
merecerá a Presidência da República.
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