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AI DE TI, RIO
DE JANEIRO
O
deserto das noites em Ipanema e no Leblon é sinal
de
que o estado da insegurança pública não poupa mais ninguém
Por
Ricardo Noblat
noblat.oglobo.globo.com
21/09/2017
- 03h37
Cego em tiroteio não parece tão perdido
quanto está Luiz Fernando Pezão (PMDB), governador do Rio, denunciado e cassado
por corrupção, que ainda consegue segurar-se no cargo graças a uma decisão
judicial temporária. Comparada com a dele, a situação do presidente Michel
Temer é para lá de segura, embora igualmente desconfortável.
Depois de três dias de silêncio, Pezão
reapareceu para avisar aos cariocas: foi ele que desautorizou qualquer ação
policial para sustar a mais recente batalha travada por traficantes de drogas
que resultou no último domingo em quatro mortes na favela da Rocinha. E assim
procedeu para “preservar a vida de inocentes”. De resto, domingo era dia do
Rock In Rio.
Por ser dia de rock, e ainda mais domingo de
muito movimento nas ruas, se a polícia tivesse agido “seria uma guerra onde
morreriam inocentes”, segundo Pezão. Quer dizer: doravante, se bandidos
trocarem tiros pondo em risco a vida dos que moram em favelas, Pezão estará
pronto para orientar a polícia a não se meter. Só assim morrerá menos gente.
Pezão não disse se a polícia também
permanecerá inerte caso traficantes desçam dos morros e troquem tiros no
asfalto da Zona Sul da cidade onde ele e os aquinhoados pela sorte ainda
conseguem viver. É verdade que a vida, ali, já foi melhor. O deserto das noites em Ipanema e no Leblon é
sinal de que o estado da insegurança pública não poupa mais ninguém.
Era de se imaginar que a polícia existe para
evitar conflitos que pusessem em risco a vida de pessoas. E que uma vez que
tais conflitos estalassem, ela agisse na tentativa de evitar mortes ou um
número maior delas. Não mais. Pelo menos não no Rio de um governador inepto que
sucedeu a um governador corrupto, condenado, ontem, a 45 anos de cadeia.
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