sexta-feira, 15 de setembro de 2017

A ÉTICA DO CRUZ-CREDO: PAPOS DE BOTECO

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FOTO: ARQUIVO GOOGLE

CENA UM

Paulo não queria prosa, mas Pedro queria.

Sem mais nem por que, Pedro desandou a falar (mal) das leis.  A ele parecia normal prender alguém no poste, enchê-lo de pancada, matá-lo - se possível, se preciso. Afinal, bandido não deixa saudade, não é? E a Justiça não funciona: a polícia prende, ela manda soltar. 

Paulo tentou interditar o papo. Queria dar um fim na conversa vadia, no aperitivo, no meio copo de cerveja quente que ainda lhe restava. Em vão. Não conseguia se desvencilhar do conhecido.

Pedro estava impossível:

-- Duro mesmo é tolerar a Lei Maria da Penha.

-- Como? - afetou falso interesse Paulo.

-- Hoje, a mulher apronta e a gente nem lhe pode dar um corretivo.  Aonde vamos parar?

***

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ILUSTRAÇÃO: NOVAES

CENA DOIS

-- Viu a pesquisa, alienado?

-- Qual?

-- A que deu na televisão ontem à noite. A maioria concorda comigo. Sempre falei que as mulheres – não todas, evidentemente – são culpadas por muita coisa que sofrem na condução. Quem manda andar com saia curta, calça justa, peito pra fora? Tentam os homens, depois reclamam.

-- É verdade. Quem procura, acha. Minha mulher sempre fala: “Nunca ninguém me pegou no trem”. Sou decente.

-- Vão se catar. Não digo pegar na marra. Mas uma brincadeirinha não mata ninguém.

***
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ILUSTRAÇÃO: SÉRGIO BASTOS

CENA TRÊS

Esse negócio de catar latinha pra vender já foi bom. Não é mais. Antes pagavam bem pelo quilo. Hoje, pagam uma miséria. E a concorrência é muito grande. Até dono de bar junta lata pra fazer uns trocos. Cheguei a ganhar um bom dinheiro. Ainda mais que colocava areia, pra aumentar o peso.

-- Você também punha areia nas latas?

-- Era o que mais fazia. Um dia o cara do ferro velho descobriu, bateu um fio para os amigos sucateiros. Nunca mais vendi pra ninguém da região. É uma máfia.

-- É verdade. São uns safados.

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Ante a impossibilidade do castigo físico, os antigos secretários de redação dos jornais partiam para a humilhação verbal - e pública. Mandavam repórteres e redatores reescrever textos que rasgavam sem ao menos tê-los lido. E a justificativa era sempre a mesma: “Está um lixo”. Por Orlando Silveira
https://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/2017/09/quase-historias-o-senhor-tem-certeza-de.html#comment-form


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