FOTO: ARQUIVO GOOGLE |
CENA
UM
Paulo não queria prosa, mas Pedro queria.
Sem mais nem por que, Pedro desandou
a falar (mal) das leis. A ele parecia
normal prender alguém no poste, enchê-lo de pancada, matá-lo - se possível, se
preciso. Afinal, bandido não deixa saudade, não é? E a Justiça não funciona: a polícia prende, ela manda soltar.
Paulo tentou interditar o papo. Queria
dar um fim na conversa vadia, no aperitivo, no meio copo de cerveja quente que ainda lhe restava. Em
vão. Não conseguia se desvencilhar do conhecido.
Pedro estava impossível:
-- Duro mesmo é tolerar a Lei Maria
da Penha.
-- Como? - afetou falso interesse Paulo.
-- Hoje, a mulher apronta e a gente
nem lhe pode dar um corretivo. Aonde vamos parar?
***
ILUSTRAÇÃO: NOVAES |
CENA
DOIS
-- Viu a pesquisa, alienado?
-- Qual?
-- A que deu na televisão ontem à
noite. A maioria concorda comigo. Sempre falei que as mulheres – não todas, evidentemente
– são culpadas por muita coisa que sofrem na condução. Quem manda andar com
saia curta, calça justa, peito pra fora? Tentam os homens, depois reclamam.
-- É verdade. Quem procura, acha.
Minha mulher sempre fala: “Nunca ninguém me pegou no trem”. Sou decente.
-- Vão se catar. Não digo pegar na
marra. Mas uma brincadeirinha não mata ninguém.
***
ILUSTRAÇÃO: SÉRGIO BASTOS |
CENA
TRÊS
Esse negócio de catar latinha pra
vender já foi bom. Não é mais. Antes pagavam bem pelo quilo. Hoje, pagam uma
miséria. E a concorrência é muito grande. Até dono de bar junta lata pra fazer
uns trocos. Cheguei a ganhar um bom dinheiro. Ainda mais que colocava areia,
pra aumentar o peso.
-- Você também punha areia nas latas?
-- Era o que mais fazia. Um dia o
cara do ferro velho descobriu, bateu um fio para os amigos sucateiros. Nunca
mais vendi pra ninguém da região. É uma máfia.
-- É verdade. São uns safados.
LEIA TAMBÉM
Ante a impossibilidade do castigo físico, os antigos secretários de redação dos jornais partiam para a humilhação verbal - e pública. Mandavam repórteres e redatores reescrever textos que rasgavam sem ao menos tê-los lido. E a justificativa era sempre a mesma: “Está um lixo”. Por Orlando Silveira
https://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/2017/09/quase-historias-o-senhor-tem-certeza-de.html#comment-form
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