Ilustração: Paffaro |
TEMER
ATINGE VÁCUO MORAL
AO
DAR O CADE AO PP
Uma
delação mal negociada não torna a ferramenta algo maldito. Ao contrário. É
preciso punir os delatores de fancaria para preservar um mecanismo que vem se
revelando vital no combate à corrupção
Por
Josias de Souza
UOL –
12/09/2017
O
governo de Michel Temer revela-se intelectualmente lento e moralmente ligeiro.
E essas duas velocidades são insultuosas. A lentidão intelectual impede o
presidente e seus operadores de notar que há uma fome de limpeza no ar. A
ligeireza moral leva-os a governar como crianças que brincam no barro depois do
banho. Em sua penúltima temeridade, o Planalto acomodou Alexandre Cordeiro
Macedo na poltrona de superintendente-geral do Conselho Administrativo de
Defesa Econômica, o Cade.
Conselheiro
do Cade há dois anos, Alexandre traz na testa a marca do Zorro da indicação
política. É apadrinhado do Partido Progressista, campeão no ranking de
encrencados no petrolão. Conta com o aval do deputado Aguinaldo Ribeiro (PB),
um investigado a quem Temer confiou a liderança do governo na Câmara. Dispõe
também do apoio de Ciro Nogueira, presidente do PP, outro investigado da Lava
Jato que acaba de ser jogado no ventilador da JBS como suposto beneficiário de
uma joeslyana de R$ 500 mil.
Alega-se
no Planalto e no PP que Alexandre Cordeiro é tecnicamente preparado. Ainda que
fosse, o problema é outro. Temer já havia confiado a presidência da Caixa
Econômica Federal ao PP. Admita-se que Temer pode conviver com o PP por
obrigação protocolar. Qualquer imbecil entenderia isso. Mas ir atrás do PP,
cortejar o PP, entregar o Cade ao PP depois de já ter sacrificado a Caixa…
Parece demasiado.
Temer
ainda não se deu conta. Mas seu governo já tocou o vácuo moral. Nesse estágio,
todas as decisões tendem a se converter em matreirice política rasteira, sem
qualquer compromisso com o interesse público. A impopularidade do governo é um
tributo à sua mediocridade.
JBS
VOLTA A SER ALVO DE QUATRO
INVESTIGAÇÕES
CRIMINAIS
Joesley, por Mariano Julio
Os
delatores da JBS desceram do céu, onde desfrutavam de imunidade penal, para o
inferno, onde estão cercados por pelo menos quatro investigações criminais de
nomes esquisitos: Operação Sépsis, Operação Greenfield, Operação Cui Bono, e
Operação Bullish. Investigam-se desde fraudes na Caixa Econômica até
empréstimos companheiros no BNDES. Sem imunidade, a turma da JBS talvez tenha
que se contentar com reduções de penas.
No
autogrampo que provocou a reviravolta na colaboração judicial da JBS, o
clepto-empresário Joesley Batista contou vantagem para seu empregado Ricardo
Saud. Expressando-se num idioma muito parecido com o português, ele disse:
“Nóis num vai ser preso”. Joesley e Saud foram passados na tranca no domingo.
Não havia outra coisa a fazer.
Aproveitando-se
da erosão do acordo com a JBS, denunciados e investigados criticam o instituto
da delação. Michel Temer e seus aliados puxam o coro. Convém rebater o coro.
Uma delação mal negociada não torna a ferramenta algo maldito. Ao contrário. É
preciso punir os delatores de fancaria para preservar um mecanismo que vem se
revelando vital no combate à corrupção. Temer se apavora porque acaba de ser
preso na Papuda Geddel ’51 Milhões’ Vieira Lima. Trata-se de uma nova delação
esperando para acontecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário