Filomena, 9.5, estava mais arruinada que DKV rodado. Não dava o passo. Não falava coisa com coisa. Engasgava antes de chegar à esquina. Inútil abastecê-la com gasolina aditivada. Filomena: DKV.
Ela perdera quase tudo: os passos, o tino, a força física. Mas Filomena não perdera
duas coisas: a audição e o gênio malsão. Tinha ouvidos de tuberculoso. E a têmpera
do pai: mistura de espanhol com italiano. Não mandava recado. Nem grudava na
parede.
Filomena, da sala, acompanhava com especial atenção, a conversa dos filhos
na cozinha. Todos com saco cheio de mamãe. Filomena pediu para que um dos
bisnetos levasse a cadeira de rodas até eles. E foi direto ao ponto:
-- Estão com o saco cheio de mim? Então, não peguem mais meu dinheiro.
Carlota, você é de uma incompetência ímpar. Deu pra todo mundo, de graça. Não
tem um homem pra chamar de seu. Osvaldo, se você bebesse menos, talvez
entendesse o que escreve. Paula: deixe de ser besta. Seu diploma foi comprado
por mim e por seu pai. Todo mundo sabe. Nessa cabeça não entra coisa que preste. A maconha lhe arruinou os neurônios. Estou a morrer. Quando me for, vão atribuir o fracasso
de vocês a quem? A mim é que não pode ser. Que cada um pague por seus equívocos.
O bisneto levou a cadeira de rodas, com Filomena a bordo, de volta para a sala.
(OS - Atualizado em setembro de 2017)
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Nunca nos encontramos no Parque Shangai. Nem na afamada Pirani, loja de grande sucesso, entre pobres e remediados. Mas foi ali que o amor teceu suas teias. Fotos comprovam que estivemos por lá, posando para o lambe-lambe: tocando sanfona, dois sanfoneiros, Sabiá e eu. (OS)
Isso está acontecendo "de monte", nos dias de hoje! Há pesquisa provando que cada vez mais o salário dos aposentados conta na nas despesas da casa...dos filhos!
ResponderExcluirVerdade, Marlene.
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