Imagem: Produção Ilustrativa / Política na Rede |
JE
SUIS GEDDEL
Temer,
Lula, Dilma, Geddel e mais nove em dez políticos
do
Brasil – tudo a ver. Os R$ 51 milhões são obra coletiva
da
nossa admirável vida pública
Por
J.R.Guzzo
Em
12/09/2017 – 18h
De
quem será a paternidade do ex-ministro, ex-deputado e ex-político “influente”
Geddel Vieira Lima, que saiu da Bahia para a história do Brasil como o artista
que conseguiu amontoar 51 milhões de reais em dinheiro vivo, e sem o menor
vestígio de origem, num apartamento de Salvador? Naturalmente, com o ritmo
alucinante que a corrupção alcançou atualmente neste país, Geddel pode ser
superado a qualquer momento por algum concorrente e cair várias posições na
tabela nacional da ladroagem; deixará então de aparecer como estrela do
noticiário, ao lado de potências como Joesley Batista ou Rodrigo Janot, e corre
o risco de acabar um dia como um tremendo gente fina. Mas enquanto isso não
acontece, ele é hoje a própria fotografia de como se faz política no Brasil –
roubando e escondendo malas e caixas com notas de 100 e 50 reais. A imagem do
seu tesouro secreto, que correu o Brasil e o mundo, vale mais do que uma
tonelada de editoriais da imprensa, discursos e manifestos de analistas
políticos: corrupção é isso, como se vê na foto, e não é preciso explicar mais
nada. Explicar o quê? Político brasileiro vive assim. Está na fotografia.
É
muito curioso, nessas condições de temperatura e pressão, que não tenha ficado
claro até agora quem são os pais políticos de Geddel. Um colosso como ele,
ameaçado de entrar no Livro de Recordes da roubalheira mundial, parece, aos 58
anos de idade, não ter tido uma biografia até um ano atrás – é como se tivesse
caído do céu direto no Palácio do presidente Michel Temer, como ministro de
Governo. Tudo o que se sabe dele pela mídia, salvo uma ou outra exceção, é que
Geddel é um “ex-ministro de Temer”, ou que é “envolvido com Temer”. É claro que
sim. Foi nomeado ministro há cerca de um ano, quando Temer assumiu a
presidência, e ali não durou mais do que seis meses – teve de ser demitido,
depois de uma história confusa com apartamentos de luxo em Salvador. Também é
envolvido com Temer – e como. Quem não é envolvido com Temer, aliás? O homem
está na política há quarenta anos, falando com todo o mundo, todos os dias, em
todos os governos.
J.R.GUZZO |
Mas
é rigorosamente claro, também, que o dono os 51 milhões não começou a vida em
2016. Não é preciso fazer nenhum teste de DNA para constatar que, na política
brasileira atual, Geddel tem pai, sim, e até mãe. Raramente se fala, mas isso
não muda o fato de que Geddel foi não só ministro do ex-presidente Lula, como
vice-presidente da Caixa Econômica no governo Dilma – um dos mais notórios
antros de ladroagem na história da República. Na ponta do lápis, por sinal, foi
muito mais de Lula e de Dilma do que de Temer: contra os seis meses que passou
no governo atual, ficou três anos inteirinhos como ministro da Integração
Nacional de Lula e dois anos e nove meses como mandarim na Caixa de Dilma.
Obviamente não nomeou a si próprio, sem que Lula e Dilma soubessem de nada – se
bem que o ex-presidente, caso perguntado, não iria surpreender ninguém se
dissesse que não, nunca conheceu esse Geddel. É tudo uma trama para impedir que
ele ganhe as eleições de 2018. Tripla paternidade, então? Outro problemão é
saber quanto do dinheiro foi roubado em qual época. Será que os 51 milhões
vieram só no governo Temer – ou é resultado de toda uma obra?
De
tudo isso sobra o seguinte: você pode achar que Temer é ladrão porque Geddel
foi ministro dele, mas aí também precisaria achar que Lula é tão ladrão – e
Dilma é tão ladra – quanto o mesmo Temer que tanto acusam. Que raio de
presidente é esse Lula – capaz de deixar um criminoso agir livremente como
ministro durante três anos seguidos e não perceber nada de errado com ele? Ou é
cúmplice, ativo ou passivo, ou é um idiota – a menos, é claro, que Geddel tenha
agido corretamente esse tempo todo, e os três – Lula, Dilma ou Temer – sejam
perfeitamente inocentes. Enquanto essas dúvidas não se esclarecem, a conclusão
mais coerente é que todos eles, e 90% dos políticos brasileiros, são
extraordinariamente parecidos. O que mais gostariam de dizer hoje, no fundo, é
a mesma frase – Je Suis Charlie – que
os franceses utilizaram anos atrás para afirmar sua solidariedade com os
jornalistas da revista Charlie Hebdo
assassinados pelo terrorismo islâmico. Só teriam de traduzir: ”Je Suis Geddel”.
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