Lula e Temer: dois amantes (do dinheiro alheio), dois irmãos Foto: Arquivo Google |
A
POLÍTICA COMO CASO DE POLÍCIA
Não
sei se a história da República registra um momento como este,
em
que um presidente em exercício e um que pretende voltar
a
sê-lo se encontram em igual risco
Por Zuenir
Ventura
O
Globo – 16/09/2017
Assim
como já houve a judicialização da política e a politização da Justiça, a moda
agora é a policialização da política, ou seja, a política como caso de polícia.
Basta
ver a primeira página do jornal em um dia desta semana. A manchete era sobre o
presidente Temer e o ex-presidente Lula às voltas com idêntico problema: como
enfrentar as graves denúncias de recebimento de propina.
Outras
notícias: “Aliado de Geddel quer colaborar com a Polícia Federal”, “Garotinho é
preso com tornozeleira”, “Outro dono da JBS vai para a cadeia”, “PF diz que PGR
sabia de ação de Miller na JBS”.
Na
charge do Chico, a caricatura de cinco conhecidos personagens vestidos de
presidiários, com Temer ao fundo, no palácio, observando a cena, preocupado.
Para
quem acha que esse acúmulo de informações sobre o mesmo tema é atípico, veja o
dia seguinte. A principal revelação era: “Em nova denúncia, Temer é acusado de
chefiar organização criminosa”. Ele e mais uma meia dúzia de membros da cúpula
de seu governo seriam o chamado “quadrilhão do PMDB”, que teria embolsado R$
587 milhões de dinheiro indevido.
E
há mais: “PF vasculha a casa de ministro Blairo Maggi”. “STJ autoriza inquérito
sobre Pezão por corrupção passiva”.
A
impressão é de que quem não está preso é porque ainda vai ser.
Não
sei se a história da República registra um momento como este, em que um
presidente em exercício e um que já não é, mas pretende voltar a sê-lo, se
encontram ao mesmo tempo em igual situação de risco. Os dois têm também uma
queixa comum: se acham vítimas de perseguição. Temer, do procurador-geral, a
quem acusa de ter usado depoimentos falsos e “delação fraudulenta”. Lula, de
todo mundo que não o apoia, principalmente Sergio Moro, a quem atribui fixação
nele.
A
estratégia de ambos é também a mesma: revidar o acusador devolvendo as
acusações.
Nesse
item, Temer é um aprendiz diante de Lula, que é imbatível, como demonstrou no
seu mais recente depoimento a Moro, classificando Palocci, que até a semana
anterior era um admirável companheiro, de “frio, calculista, dissimulado”. E
“mentiroso”, embora a maior mentira fosse a sua, ao discursar para militantes e
manifestar, com sincero cinismo, um discutível desejo para quem gosta dos
prazeres da vida e tem tanta ambição de futuro: “Eu prefiro a morte a passar para
a História como mentiroso”.
Alguém
acredita?
Nós,
colunistas, somos pagos para comentar e explicar os fatos. Porém, diante da
indefinição em que se encontra o atual cenário político, acho que vou devolver
o salário.
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