CADA
CRIME COM SEU NOME
E
OUTRAS NOTAS
O
que esses empresários fizeram foi "suborno";
Suas
Excelências foram "subornados".
Todos
os envolvidos no suborno cometeram crime
Por
Carlos Brickmann
Via
blog do Augusto Nunes
17/09/2017
– 6h40
Vamos
falar claro: nenhum empresário deu propina a políticos, nenhum político recebeu
propina. A palavra propina é sinônimo de “gratificação”, ou “gorjeta”,
agradecimento livre e espontâneo pela prestação de bons serviços. Não é crime.
“Gorjeta” deriva de “gorja”, garganta — algo como “tome uma dose”. Equivale ao
francês “pour boire” — para beber. O
que esses empresários fizeram foi “suborno”; Suas Excelências foram
“subornados”. Todos os envolvidos no suborno cometeram crime.
Os
“malfeitos” de que falava Dilma chamam-se crimes. A delação premiada foi
essencial para desmascarar esse tipo de práticas. Mas deixemos de lado os
eufemismos: aproveitemos as revelações da delação e desprezemos os delatores.
São “caguetas”, “dedos-duros”, “alcaguetes”, “X9” — seres desprezíveis, que
jogam cúmplices no fogo para salvar os próprios rabos sujos. Seres que não se
envergonham de ostentar, perante filhos e família, a pena reduzida, o símbolo
da traição. Visitar o cúmplice para gravá-lo? São traidores. Que tenham tido
tantos privilégios para fazer coisas tão feias mostra o nível de bandalheira a
que chegou a moral do país.
Na
zona não há santos. Os ingleses diziam que um cavalheiro não ouve a conversa
dos outros (diziam, mas ouvem; dizer era a homenagem que o vício presta à
virtude). No Brasil do vale-tudo, em que milícias de policiais disputam com
bandidos o controle da bandidagem, nem se faz, nem se diz.
A novilíngua
Todo
esse esforço para amenizar o nome tradicional dos crimes lembra um romance
clássico de George Orwell, 1984. Num Estado totalitário, em que os habitantes
são permanentemente monitorados por câmeras, em que até o sexo tem de ser
autorizado, tenta-se mudar o idioma para uma tal Novilíngua, em que certos
conceitos desapareceriam, na falta de palavras para designá-los. “Liberdade”,
por exemplo, era uma palavra politicamente incorreta. Aqui, em vez de cuidar da
urbanização, saneamento, transporte, passa-se a chamar favela de “comunidade”,
como se isso mudasse alguma coisa. A máfia de larápios que se entupiu de
dinheiro para trair eleitores vira um grupo que “recebeu propina”. Queremos
clareza: ladrão é ladrão.
E, veja, é médico!
Muita
gente aqui tem amigos que de vez em quando viram inimigos, mas logo voltam a
ser amigos. Lula sempre tratou Antônio Palocci, coordenador de sua campanha
vitoriosa à Presidência, seu ministro da Fazenda, indicado por ele para
coordenar a campanha de Dilma, imposto por ele para a Casa Civil da nova
presidente, como amigo de fé e irmão camarada, daqueles de se guardar do lado
esquerdo do peito (lado do coração e da carteira). Agora, caguetado, eis o que
disse do amigo Palocci, que pelo jeito agora é inimigo, para Sergio Moro: “É
médico, frio, calculista, simulador”. Que é que significa, na frase, “médico?”
Um dia Lula diz “Conheço o Palocci bem. Ele é tão esperto que é capaz de
simular uma mentira mais verdadeira que a verdade”. “Ele espertamente diz ‘não
é que sou santo’, e pau no Lula”.
Amigos, amigos…
Do
lado do procurador-geral Rodrigo Janot, a surpresa veio de onde ele menos
esperava: de seu colega mais próximo, o procurador Marcelo Miller. Miller, um
dos coordenadores da caguetagem dos dois Batista, demitiu-se da Procuradoria e
começou a trabalhar no escritório de advocacia que defende os irmãos que
dedaram Michel Temer. Não é comum, mas a lei permite — só que surgiram
suspeitas de que Miller já orientava a defesa dos dois alcaguetes enquanto
estava na Procuradoria. A Polícia Federal tem certeza de que as suspeitas são
verdadeiras. Janot obteve a prisão de Miller.
…negócios à parte
Enquanto
cuida da frente interna, Janot aproveitou seus últimos dias como
procurador-geral (a partir desta semana, o cargo é de Raquel Dodge) para
apresentar nova denúncia ao Supremo contra o presidente Michel Temer e o
Quadrilhão do PMDB; Segundo a denúncia, o grupo, chefiado por Temer, incluía os
ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, mais Eduardo Cunha, Rodrigo Rocha
Loures, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves — estes quatro já presos. As
fraudes em contratos da Caixa, Furnas, Petrobras, ministérios da Agricultura e
da Integração, Secretaria da Aviação Civil e Câmara dos Deputados atingiriam R$ 587 milhões.
Calma no Brasil
A
denúncia será agora examinada no Supremo. Se aceita, vai à Câmara, que terá de
autorizar a abertura de inquérito. Não é fácil: se 172 deputados votarem
contra, ou simplesmente não aparecerem, o pedido é rejeitado.
A festa do caqui
Joesley
foi preso com um terço nas mãos (os outros dois terços não apareceram). Geddel
chorou (e explicou: teme ser estuprado). Wesley, irmão de Joesley, diz que seu
crime foi virar delator. Foi mesmo. Feio, né?
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