Ilustração: arquivo Google |
LAMA NO VENTILADOR
A pressa que Janot exibiu em
relação a Temer, não a teve em relação a Lula, Dilma et caterva. O caso Aluízio
Mercadante, por exemplo, que tentou comprar o silêncio do ex-senador Delcídio
do Amaral, que preparava delação premiada, veio a público em março de 2016. Só
agora Janot a encaminhou ao STF. Por quê?
Por Ruy Fabiano
Blog do Noblat
16/09/2017
A
delação premiadíssima dos irmãos Batista, com toda a carga de suspeitas que
levantou, teve ao menos um efeito colateral positivo: obrigou o
procurador-geral Rodrigo Janot a desengavetar denúncias que lá estavam há quase
dois anos.
As
denúncias contra os quadrilhões do PT e do PMDB misturam fatos antigos com
outros recentes. Foi o meio que Janot encontrou de enquadrar o presidente da
República, Michel Temer, que a lei exime de prestar contas de atos alheios e
anteriores a seu mandato.
Mas
a pressa, ainda que necessária, que Janot exibiu em relação a Temer, não a teve
em relação a Lula, Dilma et caterva.
O
caso Aluízio Mercadante, por exemplo, que tentou comprar o silêncio do
ex-senador Delcídio do Amaral, que preparava delação premiada (a seguir feita),
veio a público em março de 2016. Só agora Janot a encaminhou ao STF. Por quê?
Mercadante,
que cometeu o mesmo delito que levou Delcídio à prisão sumária e à perda do
mandato, não foi incomodado e exerceu seu cargo de ministro da Educação até a
saída de Dilma.
Janot,
a rigor, não incomodou nenhum dos governos do PT, pelos quais foi nomeado e
renomeado.
Chegou
a ser visto como um procurador do PT. Não explicou, até agora, por que
incinerou a delação do ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, que tratava em
minúcias de Lula e de um ministro do STF, Antonio Dias Toffoli. Sua atuação,
até os 44 minutos do segundo tempo, esteve longe de mostrar isenção.
Ao
sair, porém, em meio às trapalhadas (eufemismo de coisa bem mais séria) da
delação dos irmãos Batista – e do comportamento que agora criminaliza de seu
braço direito na PGR, Marcelo Miller -, decidiu jogar lama no ventilador.
E
haja lama. O contribuinte, lesado por tudo quanto veio à tona, agradece. O
problema é que a extensão do que remeteu ao STF faz prever encaminhamento lento
e problemático. Por serem amplas demais, e documentadas de menos, as denúncias
perdem clareza e objetividade. A defesa dos acusados agradece.
Ruy Fabiano é jornalista |
Janot
viverá dias difíceis. Arranjou inimigos poderosos em todos os partidos. Mas o
modo como o fez, de última hora e sem transparência em suas motivações, não o
tornou um herói popular. Muito pelo contrário, o colocou sob suspeição.
Não
terá, pois, a contrapartida que tem um Sérgio Moro, de compensar a ira dos
poderosos com o apoio entusiástico da opinião pública. Inversamente, terá muito
o que explicar, para fora e para dentro da PGR. Seu entorno na instituição está
todo citado nos áudios de Joesley Batista e Ricardo Saud.
Ele,
que inicialmente defendeu a probidade de Marcelo Miller, terminou por pedir-lhe
a prisão. Tal como Lula, alegou que não sabia de nada, embora, por força do
cargo que ocupava, devesse sabê-lo.
É
a teoria do domínio do fato, que a PGR sustentou, com êxito, no Mensalão contra
José Dirceu, levando-o à condenação.
O
fato concreto é que, se o país já estava quase órfão de referências
institucionais, agora ficou sem nenhuma. Os três Poderes estão, para dizer o
mínimo, chamuscados com o que se extraiu das fitas de Joesley e Saud. E há
mais, muito mais por vir, em áudios ainda não decodificados, em posse do STF.
Disso
resultam urgências políticas, decorrentes da anomalia de um presidente da
República, acusado de comandar uma quadrilha, continuar no cargo, em contraste
com o rito judicial, lento, complexo e pouco confiável, incumbido de selar-lhe
o destino.
“Janot,
a rigor, não incomodou nenhum dos governos do PT,
pelos
quais foi nomeado e renomeado. Chegou a ser visto
como
um procurador do partido”
O
PT, que está em situação bem pior, já que sua quadrilha ficou com a parte do
leão na rapina ao Estado, não hesita em insistir no “Fora, Temer!”. Pretende
levá-lo com mais força às ruas, acreditando que até os antipetistas serão
sensíveis ao apelo.
O
certo é que a semana termina com extensa lista de ações da Justiça: O depoimento
desastroso de Lula a Sérgio Moro; o agravamento da pena de José Dirceu e João
Vaccari, no TRF 4 (para 40 anos), pendente ainda do voto de minerva; a rejeição
unânime pelo STF da tentativa de Temer de colocar Janot sob suspeição; a prisão
de Wesley Batista; a prisão do ex-governador Garotinho; a evidência de que
Marcelo Miller era agente duplo (participava, inclusive, de um grupo no
WhatsApp com o pessoal da JBS para tratar da delação junto à PGR). E a busca e
apreensão no apartamento funcional do ministro da Agricultura, Blairo Maggi,
acusado também de corrupção.
Diante
de tal cenário, é absolutamente inviável especular sobre as eleições de 2018.
Falta um ano – e até lá não se sabe quais serão os atores dessa peça de
horrores a que o país assiste. Não se sabe sequer que partidos haverá - ou
mesmo se haverá eleições.
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