MACACO PERGUNTARÁ AO
HOMEM:
“VALEU A PENA?”
Quem poderia imaginar que o macho brasileiro se tornaria um bípede
para poder abrir o zíper num transporte coletivo do século 21, colocar
o pênis para fora, masturbar-se e espargir esperma em fêmeas indefesas?
Por Josias de Souza
UOL - 02/09/2017 | 04:50
Estranho
país o Brasil! Aboliu as baforadas de cigarro nos salões dos restaurantes
chiques. Mas não consegue impedir que pervertidos ejaculem na cara das mulheres
em ônibus e trens urbanos.
Quem
poderia imaginar que, no processo da evolução humana, o macho brasileiro se
tornaria um bípede para poder abrir o zíper num transporte coletivo do século
21, colocar o pênis para fora, masturbar-se e espargir esperma em fêmeas
indefesas?
Um
King Kong enxergaria essa modalidade de sexo público como uma prática
constrangedora. Em São Paulo, porém, chamado a julgar o caso do sujeito que
ejaculou no pecoço de uma mulher dentro do ônibus, um juiz mandou soltá-lo com
base na seguinte argumentação:
''Entendo
que não houve constrangimento, tampouco violência ou grave ameaça, pois a
vítima estava sentada em um banco de ônibus, quando foi surpreendida pela
ejaculação do indiciado.''
Levando-se
o raciocínio do doutor às útimas (in)consequências, a mulher ultrajada talvez
devesse agradecer ao agressor pela civilidade do ataque. Mas a vítima, aos
prantos, discordou: “Eu me senti um lixo. Para a Justiça, não fui
constrangida!”
A
decisão ajuda a explicar o comportamento do agressor. Não foi a primeira vez
que ele meteu o pênis na cara de uma mulher. Acumula 13 passagens pela polícia
por “ato obsceno e importunação ofensiva ao pudor” e três prisões, sendo duas
por “estupro”.
O
cobrador do ônibus evitou que o tarado fosse agredido. Segurou-o até a chegada
da polícia. Lamentou que a prisão tenha sido relaxada no dia seguinte. Disse
estar “decepcionado”.
O
juiz escorou sua decisão em manifestação do promotor, também favorável à
liberação do agressor, mediante pagamento de multa. Tais injustiças levam
algumas pessoas a gritarem, de tempos em tempos: “Livrai-me da Justiça, que dos
malfeitores me livro eu.”
Alguém
já disse que a civilização é tudo o que sobra para ser desenterrado dez mil
anos depois. Quando os arqueólogos desencavarem evidências de que os ataques
sexuais eram comuns nos transportes coletivos brasileiros, tudo será
esclarecido.
A
comunidade científica concluirá que o macho brasileiro parou de evoluir por
volta dos anos 2000, tomando o caminho de volta. Era bípede. Mas retrocedeu até
ficar de quatro. Registros sonoros indicarão que o macaco voltou à cena para
perguntar: “Acha que valeu a pena?”
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