
SELFIE
Ah! Que pena, na minha época de miúda não
existiam os tais celulares, nem um reles pau
de selfie desses que a gente compra no trem.
Que pena não ter registrado minhas façanhas
com cores vivas.
Poderia provar por exemplo que a maioria das
minhas cicatrizes foram provocadas por arte
ou consequência da perebas mesmo!
E quando passei dias me esquivando do meu
pai, escondendo o que restou da minha sombra-
celha.
Não tem registro, nem cicatriz, mas quase perdi
um olho.
E quando seu Souza se distraiu lá dentro e deixou
a caixa registradora aberta e eu não peguei nem
um tostão, a não ser um pacotinho branco que
pensei que fosse açúcar, cheguei em casa espumando,
era bicabornato de sódio.
E quando o nego deu uma carreira na gente dentro
do quintal do turco? Aliás, o quintal do turco era a
nossa Disney, tinha de tudo! Até saci!
É verdade!
E...
Melhor parar, não tenho como provar, como mostrar,
deixo apenas um relato entusiasta de uma menina
que alisa, contorna, alinhava as lembranças numa
teia de algodão.
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