LULA ISOLOU-SE DA
REALIDADE
EM SUA BOLHA PETISTA
(Por Josias de
Souza, em 05/03/2016)
As pessoas ficam falando mal do Lula, mas, na verdade, ele só merece
pena. É uma vida desgraçada a do ex-presidente petista. Está certo, dá
dinheiro. Dá muito dinheiro. Dá dinheiro demais —R$ 30 milhões em palestras e
doações ao Instituto Lula feitas por empreiteiras pilhadas assaltando a
Petrobras, noves fora o salário e a aposentadoria do Estado. O excesso de
liquidez é uma das misérias da ex-presidência petista.
Outros seres humanos vivem com rendimentos exagerados. Mas o
ex-presidente do PT é dependente do exorbitante. É como aquelas pessoas doentes
que, não podendo respirar oxigênio, são isoladas numa bolha. Lula sofre com a
insensibilidade do Sérgio Moro com o seu vício pela anormalidade.
“[…] É forçoso reconhecer que se trata de valores altos para doações
e palestras, o que, no contexto do esquema criminoso da Petrobras, gera dúvidas
sobre a generosidade das empresas”, anotou o juiz da Lava Jato no despacho em
que ordenou que Lula fosse retirado da bolha para ser interrogado no Brasil
real.
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No interior da bolha petista vigora uma monarquia absolutista. Ali,
o ex-presidente Luís Inácio autoproclamou-se Dom Lula 1º (e único), o
venturoso. Isolado do meio ambiente exterior, respira exorbitância, sua
substância vital. Faz isso como se nada tivesse sido descoberto sobre o que ele
fez nos verões passados.
Coisas estranhas sucedem com o ex-presidente no reino da bolha.
Imóveis lhe caem no colo — um sítio do tamanho de 24 campos de futebol, um
triplex à beira mar… Empreiteiras se oferecem para reformar as propriedades.
Composta de gente incompreensiva, a força-tarefa da Lava Jato destila suspeição
em documento oficial:
“A suspeita é que os valores com que o ex-presidente foi agraciado
constituem propinas pagas a título de contraprestação pelos favores ilícitos
obtidos no esquema Petrobras. A vantagem não precisa ser dinheiro, não precisar
estar diretamente ligada ao ato. Nós podemos verificar que mesmo após o exercício
da Presidência podem estar sendo pagos ainda vantagens ao ex-presidente.”
"Uma claque de devotos realiza o trabalho humanitário,
estimulando com urros e palavras de ordem
um ex-presidente notoriamente despreparado
para lidar com a realidade."
Arrancado “coercitivamente” do reino da bolha pela Política Federal,
Dom Lula 1º (e único) se deparou nesta sexta-feira com a República, cuja
proclamação ele passou a considerar um erro. Sobretudo depois que as
instituições republicanas começaram a iluminar seus calcanhares de vidro, o
sítio de vidro, o triplex de vidro, as palestras de vidro, o instituto de
vidro, a biografia de vidro…
Depois de interrogado, o ex-presidente petista foi liberado para
retornar ao mundo da bolha. Disse que, por algumas horas, se sentiu como um
“prisioneiro”. Horas depois, declarou ter sido “sequestrado” pela Polícia
Federal. O soberano estava de volta ao seu abiente (i) natural.
Uma claque de devotos realiza o trabalho humanitário, estimulando
com urros e palavras de ordem um ex-presidente notoriamente despreparado para
lidar com a realidade. A militância faz as vezes de qualquer mãe com seu filho
problemático. Estimula-o a desfrutar de sua anormalidade.
Meio choroso, Lula acenou com a hipótese de trocar a bolha pelo
Planalto em 2018, se o doutor Moro deixar. “Cutucaram o cão com vara curta. Eu
quero oferecer a vocês esse jovem de 70 anos de idade, com tesão de 30, corpo
de atleta de 20 anos. Não tenho preguiça de acordar às 6h e dormir as 22h. A
partir de hoje a única resposta à insolência e ofensa que fizeram a mim é ir
pra rua e dizer: ‘Eu tô vivo e sou mais honesto que vocês’.”
Alguma coisa subiu à cabeça do soberano petista. E não é nada que se
pareça com sensatez. “Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça,
bateram no rabo, porque a jararaca está viva.''
A jararaca é capaz de tudo, menos de dar explicações. Elitizada,
declara-se perseguida pela “elite”. Quem não é devoto não consegue entender os
efeitos que a prosperidade exerce sobre uma cobra criada no reino da bolha,
respirando exorbitância.
Josias de Souza é
jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25
anos na “Folha de S. Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília,
Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro “A História Real”
(Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da
primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em
2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de
reportagens batizada de “Os Papéis Secretos do Exército''.
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