O PAR DE BOTAS
No dia marcado, o policial procurou Zé Bananeira para receber as
botas, mas não o encontrou no local de trabalho, nem na sua residência. O homem
voltou diversas vezes, mas não conseguia encontrá-lo. Percebeu, então, que o sapateiro estava se
escondendo dele. Contrariado, o policial planejou atocalhá-lo, à noite, quando
voltasse para casa. Escondeu-se perto da casa do sapateiro, atrás de uma
árvore, esperando o momento certo para abordá-lo. Afinal de contas, ele não
devia dormir na rua.
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Violante Pimentel é procuradora
aposentada do Rio Grande do Norte
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Por sorte, não demorou muito, o sapateiro apontou no começo da rua,
andando com passos trôpegos, completamente embriagado. A rua parecia estreita
demais para ele. Não conseguia andar em linha reta. Mesmo assim, quando viu o
cabo na calçada de sua casa, parou.
O cabo, então, perguntou:
- E aí, Zé Bananeira, e as minhas botas?
O sapateiro respondeu:
-- Ainda não tive tempo de fazer, mas vou fazer, seu cabo! Tive uns
problemas lá em casa, mas amanhã, eu garanto que vou fazer!!!
O cabo retrucou:
-- Faça logo, por favor. Você recebeu a metade do dinheiro e está
dando essa maçada toda!
Compenetrado, o sapateiro falou:
-- Acredite em mim, “Otoridade”! Posso lhe garantir que, nesta
cidade, não tem ninguém mais importante do que o senhor! Não tem Juiz,
Promotor, Padre, Prefeito, ninguém mesmo! Tudo isso é fichinha perto do senhor,
seu Cabo!!!
O policial ficou ainda mais irritado, diante de tanta bajulação.
Sabia que tudo aquilo era demagogia barata, e até certo deboche.
Nessas alturas, o homem já estava quase sóbrio. A surpresa de
encontrar o cabo à sua espera curara a carraspana que havia tomado.
O policial, então, encarando o sapateiro nos olhos, falou:
-- Olha, Zé Bananeira, eu não sabia que você me achava tão
importante assim! Pelo visto, eu sou mais importante do que Deus? Sou, ou não sou?
O sapateiro, com um riso sem graça, respondeu:
-- Aí tá danado, "Otoridade"!... Mas, aí eu aposto que
dá "empate"!!!

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