sábado, 5 de março de 2016

COISAS DA VIDA

O PAR DE BOTAS








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(Por Violante Pimentel) Zé Bananeira era um ótimo sapateiro de Nova-Cruz, mas tinha o vício da bebida, o que atrapalhava sua credibilidade. Certo dia, um cabo da Polícia Militar encomendou-lhe um par de botas, com urgência, pois fazia parte do seu fardamento. Pagou-lhe a metade do preço ajustado, e o restante pagaria quando recebesse a encomenda. O sapateiro gastou o dinheiro  todo com cachaça.

No dia marcado, o policial procurou Zé Bananeira para receber as botas, mas não o encontrou no local de trabalho, nem na sua residência. O homem voltou diversas vezes, mas não conseguia encontrá-lo.  Percebeu, então, que o sapateiro estava se escondendo dele. Contrariado, o policial planejou atocalhá-lo, à noite, quando voltasse para casa. Escondeu-se perto da casa do sapateiro, atrás de uma árvore, esperando o momento certo para abordá-lo. Afinal de contas, ele não devia dormir na rua.


Violante Pimentel é procuradora 
aposentada do Rio Grande do Norte

Por sorte, não demorou muito, o sapateiro apontou no começo da rua, andando com passos trôpegos, completamente embriagado. A rua parecia estreita demais para ele. Não conseguia andar em linha reta. Mesmo assim, quando viu o cabo na calçada de sua casa, parou.

O cabo, então, perguntou:

- E aí, Zé Bananeira, e as minhas botas?

O sapateiro respondeu:

-- Ainda não tive tempo de fazer, mas vou fazer, seu cabo! Tive uns problemas lá em casa, mas amanhã, eu garanto que vou fazer!!!

O cabo retrucou:
-- Faça logo, por favor. Você recebeu a metade do dinheiro e está dando essa maçada toda!

Compenetrado, o sapateiro falou:

-- Acredite em mim, “Otoridade”! Posso lhe garantir que, nesta cidade, não tem ninguém mais importante do que o senhor! Não tem Juiz, Promotor, Padre, Prefeito, ninguém mesmo! Tudo isso é fichinha perto do senhor, seu Cabo!!!

O policial ficou ainda mais irritado, diante de tanta bajulação. Sabia que tudo aquilo era demagogia barata, e até certo deboche.

Nessas alturas, o homem já estava quase sóbrio. A surpresa de encontrar o cabo à sua espera curara a carraspana que havia tomado.

O policial, então, encarando o sapateiro nos olhos, falou:

-- Olha, Zé Bananeira, eu não sabia que você me achava tão importante assim! Pelo visto, eu sou mais importante  do que Deus? Sou, ou não sou?

O sapateiro, com um riso sem graça, respondeu:

-- Aí tá danado, "Otoridade"!... Mas, aí eu aposto que dá  "empate"!!!




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