sábado, 2 de setembro de 2017

POLÍTICA/OPINIÃO: J.R.GUZZO

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JANOT/ILUSTRAÇÃO: CLAYTON - O POVO (CE)

LIVRO DOS MISTÉRIOS

Teremos direito, mas só no futuro, a revelações de Rodrigo Janot
sobre a bomba que colocou em cima da mesa quatro meses atrás
e que até agora não explodiu

Por J.R. Guzzo
Blog Fatos
01/09/2017 – 18h45

O procurador-geral Rodrigo Janot, que está para ser substituído nos próximos dias, anunciou que vai escrever nada menos que dois livros sobre a sua passagem pelo cargo. Nessa ocasião revelará, segundo promete, pormenores inéditos daquela que parece ser a maior realização de sua vida: a doação, em caráter perpétuo, de um perdão para os mais de 200 crimes confessados pelo empresário Joesley Batista, em troca de uma delação termonuclear que acabaria com o governo Michel Temer.

A declaração desperta de imediato algumas curiosidades. A primeira pergunta que vem à mente é: por que dois livros? Tudo isso? Dante Alighieri precisou de um livro só para escrever a Divina Comédia – será que o procurador-geral tem mais coisas a dizer que ele? Uma segunda pergunta: por que o procurador-geral acha que sua passagem pela função merece ser contada em dois livros inteiros, ou mesmo num livro só? Obviamente, a liberdade de expressão lhe dá o direito de escrever quantos livros quiser, e sobre os assuntos que quiser. Ninguém tem nada a ver com isso. Mas obras de próprio punho por parte de altas autoridades se dividem em apenas dois tipos: as que são mortalmente chatas, e mal conseguem ser lidas pela própria família do autor, ou as que prometem segredos de Estado capazes de abalar o movimento de translação da Terra e que, quando vai se ler, acabam por não entregar nada. Em ambos os casos, são o que há em matéria de coisa inútil.

Janot informou, ao anunciar sua futura obra, que se sentiu obrigado a registrar por escrito os eventos de sua passagem pelo cargo. “Devo isso à sociedade brasileira”, disse ele. Vem, então, uma terceira pergunta: por que, com todo o respeito, o procurador-geral acha que a sociedade brasileira se sente credora das suas memórias? Alguém lhe cobrou alguma coisa? Quanta gente estaria realmente interessada nesse assunto? E se está devendo, por que já não pagou? Enfim, uma quarta e última pergunta, talvez necessária para esclarecer melhor a terceira: por que o procurador não revela agora, enquanto está no cargo, as “coisas” que promete revelar no livro? Se são importantes e baseadas em provas, é sua obrigação apresentar todas elas agora. Se não são uma coisa nem outra, então o que adianta contá-las depois?

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