JANOT/ILUSTRAÇÃO: CLAYTON - O POVO (CE) |
LIVRO DOS
MISTÉRIOS
Teremos direito, mas só no futuro, a revelações
de Rodrigo Janot
sobre a bomba que colocou em cima da mesa
quatro meses atrás
e que até agora não explodiu
Por J.R. Guzzo
Blog Fatos
01/09/2017 – 18h45
O
procurador-geral Rodrigo Janot, que está para ser substituído nos próximos
dias, anunciou que vai escrever nada menos que dois livros sobre a sua passagem
pelo cargo. Nessa ocasião revelará, segundo promete, pormenores inéditos
daquela que parece ser a maior realização de sua vida: a doação, em caráter
perpétuo, de um perdão para os mais de 200 crimes confessados pelo empresário
Joesley Batista, em troca de uma delação termonuclear que acabaria com o
governo Michel Temer.
A
declaração desperta de imediato algumas curiosidades. A primeira pergunta que
vem à mente é: por que dois livros? Tudo isso? Dante Alighieri precisou de um
livro só para escrever a Divina Comédia – será que o procurador-geral tem mais
coisas a dizer que ele? Uma segunda pergunta: por que o procurador-geral acha
que sua passagem pela função merece ser contada em dois livros inteiros, ou
mesmo num livro só? Obviamente, a liberdade de expressão lhe dá o direito de
escrever quantos livros quiser, e sobre os assuntos que quiser. Ninguém tem
nada a ver com isso. Mas obras de próprio punho por parte de altas autoridades
se dividem em apenas dois tipos: as que são mortalmente chatas, e mal conseguem
ser lidas pela própria família do autor, ou as que prometem segredos de Estado
capazes de abalar o movimento de translação da Terra e que, quando vai se ler,
acabam por não entregar nada. Em ambos os casos, são o que há em matéria de
coisa inútil.
Janot
informou, ao anunciar sua futura obra, que se sentiu obrigado a registrar por
escrito os eventos de sua passagem pelo cargo. “Devo isso à sociedade
brasileira”, disse ele. Vem, então, uma terceira pergunta: por que, com todo o
respeito, o procurador-geral acha que a sociedade brasileira se sente credora
das suas memórias? Alguém lhe cobrou alguma coisa? Quanta gente estaria
realmente interessada nesse assunto? E se está devendo, por que já não pagou?
Enfim, uma quarta e última pergunta, talvez necessária para esclarecer melhor a
terceira: por que o procurador não revela agora, enquanto está no cargo, as
“coisas” que promete revelar no livro? Se são importantes e baseadas em provas,
é sua obrigação apresentar todas elas agora. Se não são uma coisa nem outra,
então o que adianta contá-las depois?
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