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POLÍTICA/OPINIÃO
02/04/2016 – BLOG DO NOBLAT
ENCICLOPÉDIA DO PETROLÃO
(POR RUY FABIANO) Em explanação, quarta-feira, perante a comissão da
Câmara que analisa o impeachment, a professora de direito Janaína Paschoal –
coautora da peça, ao lado dos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr. – foi
categórica: “Sobram crimes!”.
Disse-o para contrapor-se, de maneira
definitiva, ao hilário argumento do PT em sentido contrário – o de que o
impeachment não se justifica por “não haver delitos”. Por essa insustentável
artimanha, o partido, que pediu o impeachment de todos os presidentes que o
precederam no poder, o considera um “golpe”.
O país e o mundo se espantam
diariamente com as revelações em cascata do maior escândalo financeiro da
história. Seis milhões nas ruas, pedem o fim do governo e cadeia para sua
cúpula, mas, segundo Lula e Marilena Chauí, é tudo invencionice de gente rica,
contrariada com a ascensão dos pobres, que – vejam só – ignoram o fato de que
já não são pobres.
Os índices oficiais informam que o
país já ultrapassou o estágio da recessão econômica; está em plena depressão e
o fundo do poço ainda não chegou, avisam os economistas.
Desemprego como nunca se viu,
inflação galopante, Estado quebrado pela soma letal de má gestão, roubalheira e
malabarismos fiscais. Mas não há nada, diz o PT.
Estão presos em Curitiba dezenas de
megaempresários, doleiros, lobistas e outros personagens que, ligados
umbilicalmente aos governos do PT, delinquiram em parceria com políticos
petistas e de partidos da base, como PMDB e PP.
Os números são estratosféricos. Só na
Petrobrás já se apurou o desvio de R$ 42 bilhões. Graça Foster, quando a
presidia, falou em R$ 88 bilhões. Fiquemos nos R$ 42 bilhões: é mais que o PIB
do Paraguai – e quase o do Uruguai. Isso numa única estatal.
Aguarda-se a abertura das
caixas-pretas da Eletrobras, fundos de pensão, BNDES, Banco do Brasil, Caixa
Econômica, Dnit etc. Onde há um cofre público, houve rapina.
Ruy Fabiano é jornalista e escritor |
Um reles gerente da Petrobras, Pedro
Barusco, devolveu 100 milhões de dólares. Era subordinado a Renato Duque, que
obedecia ao comando de José Dirceu, na época o homem forte do governo Lula.
Quanto sobrou para os chefes de Barusco?
No começo das prisões, os detidos
mantiveram-se calados, negando tudo. Contavam com a intercessão de gente graúda
do governo, nos padrões clássicos da impunidade brasileira. O governo,
reconheça-se, esforçou-se para ajudá-los, mas sem êxito. Não contava com um
juiz como Sérgio Moro e a turma da Lava Jato.
Quando se convenceram de que teriam o
destino de Marcos Valério – cujo silêncio resultou em 40 anos de cadeia -,
decidiram abrir o bico. As delações contam uma mesma história: uma ação
criminosa de rapina aos cofres públicos, coordenada de cima para baixo, com
Lula no comando e Dilma muito bem-informada.
Corrupção sistêmica, inédita, que, em
tempo de Olimpíadas, confere ao país medalha de ouro e recorde mundial na
modalidade.
O dinheiro serviu para abastecer
campanhas eleitorais – a segunda de Lula e as duas de Dilma -, bolsos de
políticos e contas secretas mundo afora. A solidariedade de chefes de Estado
como Nicolas Maduro (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia) indica que também foram
beneficiários desse colossal propinoduto.
O pedido de impeachment em exame
conta a parte menos cruenta da chacina financeira – crimes administrativos, mas
ainda assim crimes. Na época em que foi elaborado, já havia algumas delações,
mas não se tinha tão nítido o conjunto da obra, que a OAB agora complementa com
seu pedido adicional.
Não bastasse o que já se tinha, houve
posteriormente os flagrantes de Delcídio do Amaral, líder do governo, que quis
comprar o silêncio de um dos delatores, Nestor Cerveró, e oferecer-lhe um plano
de fuga. Segundo contou, o fez a pedido de Lula.
A tentativa de obstruir a justiça,
registrada de viva voz, rendeu-lhe prisão, inevitável cassação e o tornou
delator. E o que delatou não poupa ninguém e foca especialmente em Dilma e
Lula.
Como já antevia o potencial de
desastre da fala de Delcídio, Aloizio Mercadante, o ministro mais intimamente
ligado a Dilma, tentou evitá-lo. E repetiu o roteiro do próprio Delcídio,
dispondo-se a pagar por seu silêncio. Acabou incidindo no mesmo flagrante.
Janaína Paschoal tem razão: sobram
crimes. A expectativa de prisão de Lula gerou outra sequência de delitos, a que
se filiou a própria Dilma: desacato ao Judiciário, incitação à violência e à
desordem pública, tentativa de obstrução da justiça etc.
"Trata-se de pornográfica inversão dos papéis: os criminosos julgam
e o juiz é lançado ao banco dos réus. Isto, sim, é golpe"
O slogan “não vai ter golpe” é, em
si, criminoso, pois imputa ao STF, que ritualizou o impeachment e é o guardião
da Constituição, o delito de afrontá-la. A Corte diz que não é golpe e a
presidente e seu governo insistem: é sim. Qual o nome disso?
Os telefonemas gravados com
autorização judicial expuseram, nos diálogos de Lula com Dilma e autoridades de
seu governo, não apenas atos criminosos, mas um padrão moral degradado,
incompatível com quem ocupa tais cargos.
Sobram crimes; falta memória para
retê-los. O do dia obscurece o da véspera, que, por sua vez, obscureceu o
anterior. Teme-se pelo que virá, pois, segundo os procuradores da Lava Jato, o
que sabemos corresponde a apenas 30% do que há.
O conjunto da obra, no entanto, já
forma uma unidade compacta. Para abarcá-la, é necessário algo como uma
enciclopédia, cujos verbetes relacionem a vasta falange de personagens e atos.
São muitos; sobram crimes.
Só assim, no futuro, será possível
entender a extensão da tragédia cívica construída pelo PT – a Enciclopédia do
Petrolão.
Em meio a isso, empenha-se o governo
- contra o qual, segundo o Ibope, estão nada menos que 90% da população - em
criminalizar a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal.
Trata-se de pornográfica inversão dos
papéis: os criminosos julgam e o juiz é lançado ao banco dos réus.
Isto, sim, é golpe.
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