domingo, 3 de abril de 2016

POLÍTICA/OPINIÃO: RUY FABIANO

PT, a praga (Foto: Arquivo Google)
BLOG DO NOBLAT


POLÍTICA/OPINIÃO

02/04/2016 – BLOG DO NOBLAT

ENCICLOPÉDIA DO PETROLÃO


(POR RUY FABIANO) Em explanação, quarta-feira, perante a comissão da Câmara que analisa o impeachment, a professora de direito Janaína Paschoal – coautora da peça, ao lado dos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr. – foi categórica: “Sobram crimes!”.

Disse-o para contrapor-se, de maneira definitiva, ao hilário argumento do PT em sentido contrário – o de que o impeachment não se justifica por “não haver delitos”. Por essa insustentável artimanha, o partido, que pediu o impeachment de todos os presidentes que o precederam no poder, o considera um “golpe”.

O país e o mundo se espantam diariamente com as revelações em cascata do maior escândalo financeiro da história. Seis milhões nas ruas, pedem o fim do governo e cadeia para sua cúpula, mas, segundo Lula e Marilena Chauí, é tudo invencionice de gente rica, contrariada com a ascensão dos pobres, que – vejam só – ignoram o fato de que já não são pobres.

Os índices oficiais informam que o país já ultrapassou o estágio da recessão econômica; está em plena depressão e o fundo do poço ainda não chegou, avisam os economistas.

Desemprego como nunca se viu, inflação galopante, Estado quebrado pela soma letal de má gestão, roubalheira e malabarismos fiscais. Mas não há nada, diz o PT.

Estão presos em Curitiba dezenas de megaempresários, doleiros, lobistas e outros personagens que, ligados umbilicalmente aos governos do PT, delinquiram em parceria com políticos petistas e de partidos da base, como PMDB e PP.

Os números são estratosféricos. Só na Petrobrás já se apurou o desvio de R$ 42 bilhões. Graça Foster, quando a presidia, falou em R$ 88 bilhões. Fiquemos nos R$ 42 bilhões: é mais que o PIB do Paraguai – e quase o do Uruguai. Isso numa única estatal.

Aguarda-se a abertura das caixas-pretas da Eletrobras, fundos de pensão, BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Dnit etc. Onde há um cofre público, houve rapina.

Ruy Fabiano é jornalista e escritor
Um reles gerente da Petrobras, Pedro Barusco, devolveu 100 milhões de dólares. Era subordinado a Renato Duque, que obedecia ao comando de José Dirceu, na época o homem forte do governo Lula. Quanto sobrou para os chefes de Barusco?

No começo das prisões, os detidos mantiveram-se calados, negando tudo. Contavam com a intercessão de gente graúda do governo, nos padrões clássicos da impunidade brasileira. O governo, reconheça-se, esforçou-se para ajudá-los, mas sem êxito. Não contava com um juiz como Sérgio Moro e a turma da Lava Jato.

Quando se convenceram de que teriam o destino de Marcos Valério – cujo silêncio resultou em 40 anos de cadeia -, decidiram abrir o bico. As delações contam uma mesma história: uma ação criminosa de rapina aos cofres públicos, coordenada de cima para baixo, com Lula no comando e Dilma muito bem-informada.

Corrupção sistêmica, inédita, que, em tempo de Olimpíadas, confere ao país medalha de ouro e recorde mundial na modalidade.

O dinheiro serviu para abastecer campanhas eleitorais – a segunda de Lula e as duas de Dilma -, bolsos de políticos e contas secretas mundo afora. A solidariedade de chefes de Estado como Nicolas Maduro (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia) indica que também foram beneficiários desse colossal propinoduto.

O pedido de impeachment em exame conta a parte menos cruenta da chacina financeira – crimes administrativos, mas ainda assim crimes. Na época em que foi elaborado, já havia algumas delações, mas não se tinha tão nítido o conjunto da obra, que a OAB agora complementa com seu pedido adicional.

Não bastasse o que já se tinha, houve posteriormente os flagrantes de Delcídio do Amaral, líder do governo, que quis comprar o silêncio de um dos delatores, Nestor Cerveró, e oferecer-lhe um plano de fuga. Segundo contou, o fez a pedido de Lula.

A tentativa de obstruir a justiça, registrada de viva voz, rendeu-lhe prisão, inevitável cassação e o tornou delator. E o que delatou não poupa ninguém e foca especialmente em Dilma e Lula.

Como já antevia o potencial de desastre da fala de Delcídio, Aloizio Mercadante, o ministro mais intimamente ligado a Dilma, tentou evitá-lo. E repetiu o roteiro do próprio Delcídio, dispondo-se a pagar por seu silêncio. Acabou incidindo no mesmo flagrante.

Janaína Paschoal tem razão: sobram crimes. A expectativa de prisão de Lula gerou outra sequência de delitos, a que se filiou a própria Dilma: desacato ao Judiciário, incitação à violência e à desordem pública, tentativa de obstrução da justiça etc.

"Trata-se de pornográfica inversão dos papéis: os criminosos julgam 
e o juiz é lançado ao banco dos réus. Isto, sim, é golpe"

O slogan “não vai ter golpe” é, em si, criminoso, pois imputa ao STF, que ritualizou o impeachment e é o guardião da Constituição, o delito de afrontá-la. A Corte diz que não é golpe e a presidente e seu governo insistem: é sim. Qual o nome disso?

Os telefonemas gravados com autorização judicial expuseram, nos diálogos de Lula com Dilma e autoridades de seu governo, não apenas atos criminosos, mas um padrão moral degradado, incompatível com quem ocupa tais cargos.

Sobram crimes; falta memória para retê-los. O do dia obscurece o da véspera, que, por sua vez, obscureceu o anterior. Teme-se pelo que virá, pois, segundo os procuradores da Lava Jato, o que sabemos corresponde a apenas 30% do que há.

O conjunto da obra, no entanto, já forma uma unidade compacta. Para abarcá-la, é necessário algo como uma enciclopédia, cujos verbetes relacionem a vasta falange de personagens e atos. São muitos; sobram crimes.

Só assim, no futuro, será possível entender a extensão da tragédia cívica construída pelo PT – a Enciclopédia do Petrolão.

Em meio a isso, empenha-se o governo - contra o qual, segundo o Ibope, estão nada menos que 90% da população - em criminalizar a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal.

Trata-se de pornográfica inversão dos papéis: os criminosos julgam e o juiz é lançado ao banco dos réus.

Isto, sim, é golpe.


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