05.04.2016
- O Globo
O BRASIL DÁ ADEUS A LULA
(Por Marco Antonio Villa) Assistimos
aos últimos dias do projeto criminoso no poder. O país padeceu durante treze
anos de uma forma de ação política que associou o velho coronelismo tupiniquim
ao leninismo — e com toques de um stalinismo tropical, mais suave, porém mais
eficaz. Ainda não sabemos — dada a proximidade histórica — quais os efeitos
duradouros deste tipo de domínio que levou à tomada do aparelho de Estado e de
seus braços por milhares de funcionários-militantes, que transformaram a ação
estatal em correia de transmissão do projeto petista, criminoso em sua ação e
devastador na destruição do patrimônio nacional.
É
nesta conjuntura — a mais grave da história do Brasil republicano — que as
nossas instituições vão ser efetivamente testadas. Até o momento, uma delas, o
Supremo Tribunal Federal, ainda não passou no exame. Muito pelo contrário.
Inventou um rito de impeachment que viola a Constituição. Sim, viola a
Constituição. Deu ao Senado o “direito” de votar se aceita a abertura de
processo aprovada pela Câmara, o que afronta os artigos 51 e 52 da
Constituição. E interferiu até na composição da comissão processante da Câmara.
Pior deverá ser a concessão de foro privilegiado e, mais ainda, do cargo de
ministro-chefe da Casa Civil a Luís Inácio Lula da Silva. Caso isso ocorra — e
saberemos nesta semana — o STF deixará de ser um poder independente e passará a
ser um mero puxadinho do Palácio do Planalto, uma Suprema Corte ao estilo da
antiga URSS.
Marco Antonio Villa é historiador |
Ainda
na esfera do STF, causa preocupação o seu protagonismo em um processo
estritamente político como é o impeachment. Não cabe à Suprema Corte decidir o
andamento interno e o debate congressual do impeachment. O STF não pode, em
nenhuma hipótese, se transformar no Poder Moderador — de triste memória, basta
recordar os artigos 98-101 da Constituição de 1824. E nem desempenhar o papel
que o Exército teve nas crises políticas desde a proclamação da República até a
promulgação da Constituição de 1988. Em outras palavras, o STF não pode ser a
carta na mão de golpistas, que a colocam na mesa quando estão correndo risco de
derrota. Judicializar o impeachment é agravar ainda mais a crise e jogar o país
no caos social e político.
A
solução do impasse político é no Parlamento — e com a participação das ruas. A
manifestação de 13 de março — a maior da história do Brasil — impediu uma saída
negociada do projeto criminoso do poder. O sinal das ruas foi claro: fora Dilma
e Lula na cadeia. A estas duas palavras de ordem, as ruas reforçaram ainda mais
a necessidade imperiosa de continuidade da Lava Jato até o final. O impulso
popular levou o PMDB a mudar radicalmente de posição, basta recordar a dúbia
decisão tomada a 12 de março — de independência — e a meteórica reunião de 29
de março, quando rompeu com o governo.
A
participação das ruas na política brasileira inaugurou um novo momento na nossa
história. É incrível o desinteresse da universidade em estudar o fenômeno
representado, entre outros, pelos movimentos Vem pra Rua e Brasil Livre. Ao
invés de enfrentar este desafio interpretativo, os docentes das instituições
públicas organizam atos e manifestos em defesa de um governo corrupto,
antibrasileiro e criminoso. É a apologia ao crime — e paga com dinheiro
público.
Lula
— que é quem, de fato, vai ser “impichado” — agirá para desestabilizar o
processo democrático, como se fosse um general abandonando território
conquistado. Destruirá o que for possível destruir. Não deixará pedra sobre
pedra
A
resposta do projeto criminoso de poder foi pífia. Tentou de todas as formas
organizar manifestações para demonstrar que ainda domina as ruas e tem apoio
popular. Fracassou. Mesmo utilizando-se de fartos recursos públicos, de
partidos políticos, centrais sindicais pelegas e contando com setores da
imprensa para inflar o número de participantes. Pior foram os comícios
realizados no Palácio do Planalto. Nunca a sede do Executivo Federal assistiu
aos tristes espetáculos de incitação à violência, de ameaça à propriedade
privada e ao rompimento da ordem legal. E contando com a conivência de Dilma.
Lula, o presidente de fato, optou por permanecer em uma suíte de hotel, em
Brasília, de onde governa o Brasil, como se a ficção dos clássicos da
literatura latinoamericana — “A festa do bode”, de Mário Vargas Llosa, entre
outros — fosse transformada em realidade.
Neste
momento decisivo da vida nacional é necessário evitar cair nas armadilhas
produzidas à exaustão pelo projeto criminoso de poder. Num dia insinuam que
adotarão o Estado de Defesa (artigo 136 da Constituição), noutro que vão antecipar
a eleição presidencial, depois que contam com um número confortável de
deputados para impedir a abertura do processo de impeachment, ou que o Senado
vai rejeitar a decisão da Câmara. E mais: que a saída de Dilma vai produzir uma
grave crise social. Falácias. É o desespero, pois se avizinha — ainda neste mês
— a derrota acachapante do petismo.
A
hora do acerto de contas político está chegando. Manter o respeito à lei, à
ordem e à Constituição é essencial. Lula — que é quem, de fato, vai ser
“impichado” — agirá para desestabilizar o processo democrático, como se fosse
um general abandonando território conquistado. Destruirá o que for possível
destruir. Não deixará pedra sobre pedra — daí a necessidade da sua prisão, pois
solto coloca em risco a ordem pública, desrespeita as instituições e ameaça o
país com uma guerra civil. Quer transformar a sua derrota em um cataclismo
nacional. Não vai conseguir. A desmoralização da política não pode chegar ao
ponto de dar a ele o direito de decidir que vai incendiar o país. Ele sabe que,
desta vez, como se diz popularmente, a crise não vai acabar em pizza — ou na
rota do frango com polenta, em São Bernardo do Campo. Vai terminar em sushi.
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