O
BAZAR DAS 1000 BOQUINHAS
08.04.2016 - revista EXAME
(Por
J.R Guzzo) À esta altura do jogo, ninguém precisa de mais
esclarecimentos sobre a conduta de Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, sua
capacidade de degenerar o próprio governo e a irresponsabilidade soberana com
que toma, ou acha que toma, suas decisões. Em todo caso, é sempre útil manter
em mente o potencial destrutivo que conserva enquanto estiver exercendo
oficialmente as funções de presidente da República. Não é pouca coisa. Justo
agora, em mais um episódio tenebroso de sua biografia, Dilma se empenha
abertamente em transformar o serviço público num mercado indecente, onde vende
cargos em troca de votos que a salvem do impeachment no Congresso. Não é mais o
que se poderia chamar de negociação política – virou tráfico, puro e simples.
São de 500 a 800 postos em oferta, ao que parece; há contas indicando que podem
ser 1.000. Se precisasse, Dilma não conseguiria comprovar um único caso de
interesse publico nas nomeações que se propõe a fazer – trata-se unicamente de
compra e venda. “O PT é o partido da boquinha”, disse certa vez o ex-governador
Anthony Garotinho. Mal imaginava que o PT acabaria não apenas como o campeão
nacional da boquinha, tomando para si tudo quanto é emprego público que lhe
passa pela frente; é também, no momento, o maior vendedor de boquinhas da
praça.
Dilma conseguirá se safar
com isso? Com um governo com a inépcia do seu, não dá para saber. É
perfeitamente possível que a operação toda acabe se transformando em apenas
mais uma exibição de anarquia explícita e incompetência em estado terminal. O
governo não sabe exatamente quantos cargos pode vender, nem quais são eles. Não
sabe direito quem quer comprar; apenas imagina que seja gente ligada a colossos
da história política nacional como PP, PR, PSD, etc. Dilma não conhece a vasta
maioria dos que pretende nomear, como não tem ideia de quem são os que pretende
demitir. Não sabe, sequer, se Lula vai ocupar ou não o ministério mais
importante de seu governo – talvez já não saiba, nem mesmo, se ele ainda quer o
cargo. Fala-se que o governo vai socar “verbas” nos agraciados. Que verbas?
Todo santo dia vem mais uma notícia sobre o estado pré-falimentar do Tesouro
Nacional – onde vão achar o dinheiro para satisfazer o apetite da nova armada
contra o impeachment? A dívida bruta é recorde. A dívida líquida não é melhor.
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A lista dos empregos
empenhados na operação inclui, entre outros florões do serviço público
brasileiro, repartições especialmente sinistras sob a gestão do PT, como
Fundação Nacional da Saúde (em cuja órbita já se roubou até sangue),
Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, Companhia Nacional de
Abastecimento e até uma Antaq, onde, acredite se quiser, é administrado o
“transporte aquaviário” do país. Um probleminha, nisso tudo, é que entre os
possíveis nomeados provavelmente haverá gente tão encrencada com a corrupção
quanto todos esses que estão por aí tentando fugir da cadeia; assim que
assumirem começarão a emergir suas folhas corridas. Não se pode garantir,
enfim, que haverá tempo material para identificar e nomear os 500, 800 ou 1.000
cidadãos com os quais Dilma espera fugir da deposição – o processo de
impeachment pode andar mais depressa do que as nomeações e, de mais a mais,
ninguém garante que os nomeados entreguem mesmo a mercadoria que venderam.
Quem sabe, em sua
calamidade, o governo pudesse vender para algum interessado o comando da Força
Nacional, criada para ajudar na segurança das Olimpíadas do Rio de Janeiro? É
uma ideia. Dilma ganhou de graça essa vaga. O ocupante, coronel Adilson
Moreira, se demitiu porque não quer mais, como disse em e-mail para os
subordinados, servir a um governo comandado por “um grupo sem escrúpulos,
incluindo aí a presidente da República”. O coronel declarou-se “envergonhado”.
Falou o que milhões de brasileiros falariam, e esperam que os servidores
públicos decentes falem. É o contrário exato da manada que se precipita sobre
as “bocas” que Dilma colocou em leilão no seu bazar.
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