quinta-feira, 28 de abril de 2016

COISAS DA VIDA


O NOME

(Por Violante Pimentel) Joaquim realizou o antigo sonho de se mudar para o Brasil, onde tentaria ganhar a vida. Juntou todas as suas economias e se estabeleceu numa capital nordestina. Seu primeiro empreendimento foi uma padaria, mas não deu certo. Abriu um mercadinho, também não deu certo. Como a cidade tinha um elevado índice de prostituição, Joaquim conseguiu um sócio e os dois investiram num motel, ao qual deram o nome “fantasia” de “Motel Nossa Senhora dos Prazeres”. 

O nome provocou a revolta da população católica da cidade, e o Clero impetrou um mandado de segurança, obtendo o fechamento imediato do motel. Dois anos depois, Joaquim resolveu investir novamente num motel.   

Após ouvir a opinião de alguns amigos, o proprietário resolveu “batizar” o novo motel com um nome que não tivesse qualquer relação com santos, anjos ou arcanjos. Dessa forma, estaria evitando um novo problema com a população católica e com a Igreja.  Tomou, então, as medidas necessárias, para instalação do novo empreendimento, e marcou a data da inauguração. Para garantir o sucesso do evento, expediu, previamente, convites e cortesias, para as pessoas mais influentes da cidade, especialmente os homens.

Joaquim guardou segredo quanto ao nome do novo motel, deixando para revelá-lo na ocasião da inauguração. Tinha certeza de que, desta vez, seria um sucesso.

No dia da inauguração, a cidade amanheceu com diversos “outdoors” espalhados em suas ruas, onde se podia ler a seguinte frase: “PAI, LEVA A MÃE TAMBÉM PARA O MOTEL…” As pessoas conservadoras não gostaram desse apelo e se posicionaram contra a irreverência do proprietário.


Violante Pimentel é procuradora 
aposentada do Rio Grande do Norte


Chegou a hora da inauguração, que foi bastante prestigiada. Quase todas as pessoas convidadas se fizeram presentes.
 
Iniciada a solenidade, houve o descerramento da cobertura da grande placa luminosa, onde se destacava o sugestivo nome do novo empreendimento de Joaquim: "MOTEL FADOS E FODAS". Como Joaquim era português, quis homenagear a música de sua terra, o fado, sem atentar para o fato de que a palavra "Fodas", no Brasil,  poderia ser interpretada como uma palavra obcena e desrespeitosa. As pessoas presentes não contiveram o riso, ao aparecer o nome do motel, iluminado e em letras garrafais.

Mais uma vez, o empreendimento de Joaquim foi de "água abaixo." A população conservadora da cidade ficou, novamente, indignada com o nome do motel, e o considerou um desrespeito às famílias decentes. Houve um “abaixo-assinado” encaminhado à autoridade competente, e a história se repetiu, sendo novamente determinado o imediato fechamento do motel. Para desespero de Joaquim, o “MOTEL FADOS E FODAS” funcionou apenas vinte e quatro horas.

Um fracasso total, somente por causa do nome…


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