segunda-feira, 25 de abril de 2016

GLÓRIA BRAGA HORTA

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O SUPREMO VOO


Sempiternas recordações do nosso último e encantado baile, de rostos atrevidamente colados durante poucos, porém, extasiantes segundos. O baile terminou. Fiquei triste. Mas logo  a alegria voltou a iluminar meus olhos, quando,  de mãos dadas, tu me levaste para casa. Na  penumbra do caminho,  sutilmente iluminado pelas amareladas luzes da romântica pracinha, nós nos beijamos pela primeiro e última vez.  Meu primeiro beijo de adolescente. A saudade ainda dói neste velho coração... 

Imagens desses efêmeros, mas inebriantes momentos, trazem-me, no entanto, uma certa melancolia e dó de nós dois, eis que, junto a essas recordações, vem também a nostálgica lembrança de nossa inesperada separação, causada pela minha partida forçada e indesejada, bem no auge da nossa paixão. 

Ah, se eu pudesse, mesmo agora, passados tantos anos, iria ao teu encontro... mas, não posso.  É uma pena teres te mudado para esse lugar assim distante.  Não estou fisica nem psicologicamente pronta para viajar a tão longínquas plagas, onde só é possível chegar voando bem alto, muito acima das nuvens. Só de pensar, sinto calafrios.  É um espaço muito grande entre o Céu e a Terra...   



Glória Braga Horta nasceu em Mutum-MG. 
É jornalista, poeta e cronista.
Dedica-se também à música popular 
(canto e teclado)


e às artes plásticas

Meio século passado daquele nosso último encontro, revejo-me chorando, debruçada na janela da maria-fumaça, enquanto tu, com suaves gestos de despedida,  ias sumindo de meus olhos lacrimejantes,  até te tornares apenas uma névoa na plataforma da estação. A última imagem que gravei de ti, próxima à primeira curva dos trilhos, ficava ainda mais embaçada pela fumaça do trem de ferro,  enquanto  os sons intermitentes do apito impediam-me de ouvir teus últimos lamentos de adeus.  


Os  tumultuosos e efêmeros amores que cruzaram minha trajetória,  depois daquela curva que consumou nossa separação, apenas concorreram para amenizar a dor da saudade, não para curá-la.  Desconheço o tempo que ainda falta para que eu chegue  ao ponto final.  Sei apenas que, nessa hora, estarei, finalmente, preparada para alçar meu supremo voo ao teu encontro…



2 comentários:

  1. Lindo texto, Orlando! Surpresa agradável descobrir, através de você, Glória Braga Horta! Publique mais e eu também vou procurar mais, nesse nosso mundo virtual!

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  2. Obrigada, Marlene pelo incentivo! Vamos, sim!

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