DILMA PROMETE QUE ATOLEIRO
DURA PELO MENOS ATÉ 2018
Publicado no Estadão –
24.04.2016
(Por Rolf Kuntz) Só
a morte é certa, dizem os otimistas. Estão errados. A presidente Dilma Rousseff
promete mais dois anos e meio de trevas e tombos na economia se sobreviver ao
processo de impeachment. Pode-se acreditar sem medo de erro.
Para
começar, a promessa de um 2017 sem esperança de melhora está no projeto da Lei
de Diretrizes Orçamentárias (LDO). A proposta inclui a perspectiva de um
déficit primário – sem contar os juros, portanto – de até R$ 65 bilhões. Um dos
pressupostos é uma receita de R$ 33,24 bilhões de um tributo hoje inexistente,
a famigerada Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Se o
Congresso negar aprovação, faltará esse dinheiro. Se aprovar, o País será
prejudicado, mais uma vez, por uma aberração tributária. Além disso, o governo
prevê crescimento econômico de 1% no próximo ano, de 2,9% em 2018 e de 3,2% em
2019. Se tudo isso se confirmar, já será muito ruim, mas cenários mais sombrios
são prováveis.
O
currículo da presidente é um fator de segurança, uma garantia contra qualquer
hipótese de estabilização econômica e melhor desempenho. Quanto a este ano, o
risco de erro também é nulo ou insignificante. Uma contração parecida com a do
ano passado, 3,8%, parece uma boa aposta. Para quem prefere um mundo sem muita
surpresa, a permanência de dona Dilma é a solução mais confortável. É mínimo o
risco de algo sair do padrão e levar a uma economia com melhores fundamentos e
maior potencial de expansão do produto interno bruto (PIB).
Nos
primeiros quatro anos do governo Dilma Rousseff o crescimento acumulado chegou
a míseros 9,16% e a taxa média anual ficou em 2,21%. Se o PIB diminuir mais
3,8% neste ano e crescer até 2018 segundo as projeções indicadas na LDO, a
expansão econômica em oito anos de mandato será de 4,99%, com média anual de
0,61%. Só uma crise de proporções quase inacreditáveis pode produzir um
crescimento médio inferior a 1% durante oito anos. Na Europa, os países mais
afetados pelo desastre financeiro de 2008 têm exibido um desempenho bem melhor
que esse. O caso do Japão é absolutamente fora dos padrões da maior parte do
mundo. De toda forma, seria estapafúrdio atribuir a qualquer de seus ministros
ou chefes de governo alguma incompetência remotamente parecida com a observada
em Brasília, no Executivo, há mais de dez anos.
Mesmo
com a confirmação dessas projeções, o Brasil continuará, nos próximos dois ou
três anos, sem ter atingido o modelo venezuelano, tão prezado pelo governo
petista. Mas ninguém poderá acusar dona Dilma de negligência. Ela tem feito e,
se continuar no posto, continuará as medidas mais propícias a desarranjar a
economia brasileira – se ainda for possível – e reduzir seu potencial de
crescimento. Esta previsão é facilmente justificável. Para mudar de rumo e
seguir uma política mais propícia a uma economia saudável a presidente deveria
entender e reconhecer os erros cometidos a partir de 2011, no começo de seu
primeiro mandato. Deveria, além disso, perceber os erros e desmandos iniciados
por seu antecessor e mantidos em seu período.
A
Operação Lava Jato contou uma parte importante dessa história, mostrando
detalhes do saque da maior empresa brasileira, a Petrobrás. Quantos fatos
igualmente interessantes serão revelados, nos próximos anos, se investigações
semelhantes forem realizadas em outras empresas e entidades da administração
indireta?
Esses
erros incluem, ao lado de outros, o desprezo às normas da estabilidade fiscal,
a tentativa de interferir na política monetária, a tolerância à inflação, a
intervenção voluntarista nos preços, a relação promíscua entre o Tesouro e os
bancos estatais, a concessão imprudente e sem planejamento de benefícios
fiscais, o financiamento preferencial a grupos eleitos arbitrariamente, o
protecionismo comercial e a sujeição das políticas a objetivos partidários e
eleitorais.
Desde
o começo o governo petista desmoralizou a administração federal, desprezando os
critérios de competência e de produtividade e distribuindo postos de acordo com
critérios de companheirismo, de conveniências pessoais e de aliança partidária.
Esses critérios foram aplicados tanto à administração direta quanto à indireta,
afetando a gestão dos ministérios e minando a eficiência e os padrões de
moralidade funcional nas entidades vinculadas, como as estatais. A Operação
Lava Jato contou uma parte importante dessa história, mostrando detalhes do
saque da maior empresa brasileira, a Petrobrás. Quantos fatos igualmente
interessantes serão revelados, nos próximos anos, se investigações semelhantes
forem realizadas em outras empresas e entidades da administração indireta?
A
presidente continua atribuindo os males da economia do Brasil às condições do
mercado internacional. Voltou a insistir nessa fantasia durante entrevista a
jornais estrangeiros.
A
Operação Lava Jato tem sido importante para um balanço completo dos erros e
desmandos cometidos na Petrobrás. Mesmo sem esse relato, no entanto, restaria o
balanço de um desastre gerado pela incompetência e pela mistura irresponsável
de critérios e de objetivos. A política de preços de combustíveis, a orientação
politizada dos investimentos, o endividamento irresponsável e a conversão da
Petrobrás em instrumento da política industrial – um erro bestial de
administração – bastariam para causar perdas enormes.
A
criação da Sete Brasil foi um dos muitos erros causados pela confusão das
políticas petrolífera e industrial. A Sete Brasil, segundo se informou há
poucos dias, deve pedir recuperação judicial. Com ou sem confirmação dessa
notícia, o desastre é inegável. Perdas bilionárias para fundos de pensão levados
a participar dessa aventura são um detalhe revelador de um estilo de ocupação
do aparelho de poder.
A
presidente continua atribuindo os males da economia do Brasil às condições do
mercado internacional. Voltou a insistir nessa fantasia durante entrevista a
jornais estrangeiros. Não explicou, é claro, por que outros produtores de
matérias-primas, como Chile, Colômbia, Paraguai e Peru, afetados pela baixa dos
preços de exportação, continuam mais dinâmicos que o Brasil. Para explicar
teria de reconhecer seu enorme currículo de erros. Sem esse reconhecimento,
como abandonar o roteiro de equívocos e desmandos?
ROLF KUNTZ É JORNALISTA
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