MIGUEL – JORNAL DO COMMERCIO (PE) |
QUEM
PARIU TEMER QUE O EMBALE
(Por Ricardo Noblat) Em algum momento no ano
passado, o PSDB ficou contra o impeachment da presidente Dilma. Preferia que
ela sangrasse até o fim do seu atual mandato. Assim seria mais fácil derrotar o
PT na eleição presidencial de 2018.
A posição do partido depois mudou e ele aderiu à tese do
impeachment. Para refugá-la poucos meses mais tarde. E para outra vez
recepcioná-la com medo de que Lula voltasse a comandar o governo e acabasse
sendo bem sucedido.
Uma vez que o pedido de impeachment foi aprovado pela Câmara dos
Deputados, e está a um passo de ter sua admissibilidade referendada por larga
maioria no Senado, o PSDB – sempre ele! – enfrenta novo dilema: participar ou
não do futuro governo Temer?
José
Serra e Fernando Henrique Cardoso são a favor da participação. Serra está
cotado para ser ministro de Temer. Aécio Neves e Geraldo Alckmin são contra. Os
dois são aspirantes a candidato a presidente em 2018.
Foi
marcada uma reunião para o próximo dia 3 que deverá decidir o que o PSDB acha a
respeito. Por PSDB, entenda-se: o chamado colégio de cardeais do partido
formado por duas dezenas de nomes, se tantos.
Nos
quinze dias que antecederam à aprovação do impeachment na Câmara, o
vice-presidente Michel Temer aproveitou o final de suas conversas com aliados
ou possíveis aliados para adverti-los:
-
Não basta que aprovem o impeachment. Isso de pouco adiantará se não me derem
condições para governar.
Dito
de outra maneira: quem votar contra o impeachment teria de dar em seguida seus
votos para que o novo governo governe.
O que Temer pedirá ao
Congresso será praticamente a mesma coisa que Dilma hesitava em pedir – seja
por pressão do PT, seja por lhe faltar coragem, seja por seu estado de confusão
mental. Não haverá novidades.
O
impeachment foi aprovado com 367 votos favoráveis e 137 contrários. Para fazer
qualquer reforma via proposta de emenda à Constituição, o governo precisará de
um mínimo de 308 votos. Se não tiver, adeus governo.
O
governo de Dilma caiu de podre, é bem verdade. Mas os que se recusaram a
ajudá-lo a manter-se mesmo cheirando mal, não poderão agora fingir que nada
tiveram a ver com a sua queda. Tiveram, sim. E por isso são responsáveis pelo
governo que está por vir.
Do
fim da ditadura militar até o fim do primeiro governo de Dilma, o Congresso
jamais negou o que um presidente da República recém-empossado lhe pediu.
Aprovou até o congelamento da poupança dos brasileiros promovido pelo então
presidente Fernando Collor.
O
que Temer pedirá ao Congresso será praticamente a mesma coisa que Dilma
hesitava em pedir – seja por pressão do PT, seja por lhe faltar coragem, seja
por seu estado de confusão mental. Não haverá novidades.
O
futuro ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, só não foi ministro da Fazenda
de Dilma porque ela nunca gostou dele. Lula gostava e o indicou para o cargo
muitas vezes. Meirelles foi o presidente do Banco Central do governo Lula.
Se
era para negar a Temer condições de governar, o PSDB e demais partidos deveriam
ter arcado com a responsabilidade de sustentar Dilma.
Agora
é tarde.
Ricardo Noblat é jornalista |
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