A TROCA
(Por Violante Pimentel) Toninho
era um homem de quarenta e cinco anos, boêmio e namorador. Vivia apaixonado.
Separado da mulher, tinha desistido de se amarrar novamente. Gostava de paixões
violentas e aventuras amorosas complicadas.
Mulher
casada infiel, se fosse bonita e gostosa, era com ele mesmo. Bonitão,
insinuante e devorador de livros, era um excelente advogado.
Em
um dos melhores restaurantes de Natal, conheceu Rosalinda, quando ela e Damião,
o marido, saboreavam um opíparo almoço.
A
mulher, loura, nova e bonita, dona de um corpo escultural, cravou-lhe os olhos
verdes, e Toninho se sentiu fortemente atraído por ela. Flertaram abertamente,
e o marido, almoçando de cabeça baixa, nem ao menos percebeu a troca de olhares
entre os dois. Em certo momento, aproveitando a ida do marido da beldade ao
banheiro, o conquistador Toninho arranjou um jeito de passar pela mesa do
casal. Discretamente, entregou à mulher o seu cartão de apresentação, com
telefone e endereço. Ela o guardou imediatamente.
No
dia seguinte, Rosalinda lhe telefonou e os dois combinaram um encontro. Brotou
entre eles uma violenta paixão. Tornaram-se amantes, passando a se encontrar
durante o dia, no horário em que o marido, que era dentista, encontrava-se no
consultório.
Por
coincidência, tanto o marido traído, como o conquistador, eram míopes e usavam
óculos com lentes pesadas, as chamadas “fundo de garrafa”. O tempo passou, e o
romance se estendeu por meses.
Violante Pimentel é procuradora
aposentada do Rio Grande do Norte
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Sem
qualquer escrúpulo, Rosalinda traía o marido, desde que com ele se casou. Muito
absorvido pelo trabalho, Damião não imaginava que estivesse sendo vítima de
infidelidade. Os amigos já haviam tentado lhe falar sobre os boatos maldosos
que circulavam na cidade, mas Damião cortava o assunto, dizendo que isso tudo
era inveja, por causa da beleza da sua esposa. Não se cansava de dizer que ela
era uma santa.
O
casal ainda não tinha filhos, pois a mulher dizia que, por enquanto, não queria
deformar o seu belo corpo.
Num
certo dia, Damião viajou para um congresso de Odontologia em Fortaleza (CE), e
avisou à esposa que somente estaria de volta no domingo à tarde.
Feliz
da vida, Rosalinda deu o sinal verde para que, no sábado, o namorado viesse
encontrá-la em sua própria casa. A farra foi grande. Foi um início de tarde
maravilhoso, e tinha tudo para ser uma tarde inesquecível. O sabor do fruto
proibido contribuiu para isso. Afinal, eles usavam a própria cama onde
Rosalinda e o esposo dormiam.
Mas
a vida apronta grandes surpresas…
O
marido de Rosalinda, sem qualquer aviso, e pensando em agradá-la, antecipou sua
volta para o sábado.
Quando
menos esperavam, os amantes foram surpreendidos, pelo barulho do carro do dono
da casa, entrando na garagem. Apavorados, pularam da cama. Toninho fugiu pela
janela do quarto, somente de cueca, levando nos braços a calça e a camisa.
Correu e tocou a campainha da casa do vizinho, Arnaldo, seu amigo de infância.
Como era sábado, a rua estava deserta. Arnaldo perguntou quem era e,
reconhecendo a voz de Toninho, abriu-lhe a porta. Dentro da casa do amigo,
Toninho terminou de se vestir e, bastante nervoso, já se preparava para ir
embora, quando pôs no rosto os óculos que trazia nas mãos. Notou, então, que
aqueles óculos não eram os seus. Estava sem enxergar absolutamente nada, pois
usava um grau muito mais forte do que aquele.
A
ficha, então, caiu!!! Ele trocara os seus óculos pelos óculos do marido da
amante!!!
Toninho,
então, implorou ao amigo, para que fosse, urgentemente, à casa do desventurado
dentista, destrocar os óculos!!! Arnaldo, que conhecia muito bem os riscos a
que se expunha Toninho, nas suas perigosas aventuras amorosas, mesmo vendo a
sua aflição, recusou-se a atendê-lo. Naquela hora, isso seria coisa de louco!
Humanamente, impossível!!!
Nessas
alturas, o pau já estava quebrando na casa do dentista, que não teve mais como
ignorar a traição da mulher. Teve que se convencer de que, realmente, era um
“cornudo”.
Garrafas
de vinho, taças, petiscos, cama desarrumada, roupas pelo chão, um cinzeiro com
restos de cigarro, quando nem fumantes ele e a esposa eram, enfim, todo um
cenário que denunciava uma cena de adultério.
Para
completar, Damião, o marido traído, pegou os óculos de lentes “fundo de
garrafa”, que estavam na sua mesa de cabeceira, e viu que não lhe pertenciam.
Com toda a certeza, pertenciam ao homem que saíra correndo da sua casa, e que,
sem dúvida, era o amante da sua mulher.
Desta
vez, não havia como tapar o sol com a peneira. O dentista não podia mais tentar
se enganar. Contra fatos, não há argumentos. O casal se separou mesmo!!!
E
o conquistador mudou-se para outra capital.
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