O que foi feito de Carlos ninguém sabe.
Naquele ano de 1969 (ou seria de 1970?), Carlos – menino de tudo, como as
irmãs, meus primos e eu – só queria brincar.
O pai de Carlos era esquisito, jamais saía de casa. Se tanto, ia até o portão,
sempre de cabeça baixa, e ordenava:
-- Carlos, hora de entrar.
Um dia levaram o pai de Carlos. Pra onde? Ninguém sabe.
Carlos se foi, junto com o pai, a mãe, os irmãos.
Nunca mais se teve
notícia de Carlos e família. Para onde os levaram é uma incógnita.
Depois, disseram aos meus tios que eles eram, todos eles, “terroristas”.
Ufa. A vizinhança passou a respirar aliviada.
Guri de tudo, eu procurava Carlos naqueles cartazes com fotos (que
o governo punha nos bancos, lojas e sei lá mais onde) com um sonoro “Procura-se”.
Nunca encontrei a foto de Carlos. Nem a de seu pai.
Por onde andará Carlos? (publicado em 31/03/2014)
Triste lembrança! Há muitos Carlos que nunca voltaram...fase negra desse país!
ResponderExcluirVerdade, Marlene. E há tanta gente por aí com tentações autoritárias.
Excluir