-- Estou ferrado –
disse o Velho Marinheiro para si mesmo, ao perceber que, além dele, não havia nenhum
outro freguês no bar do Carneiro e que "Zeca Péssimas Notícias” (ZPN) se
aproximava, com aquele seu semblante de carpideira.
"Zeca Péssimas Notícias” é adepto fervoroso da Lei de Murphy, segundo a qual aquilo que pode dar errado sempre dará errado. Alguns o consideram apenas um
pessimista. Outros tantos vão além: colocam-no na conta de agourento –
agourento incurável. Não por acaso, também é conhecido como “O Corvo da Vila
Invernada”.
Sem que nada lhe fosse
perguntado, ZPN desandou a dar explicações que ninguém lhe pediu:
-- Ninguém é assim,
como eu, por acaso. Não é mesmo! Sei que falam mal de mim pelas costas. Sei
também que muitos me evitam... Sei que...
A cara amarrada e a falta de interesse do
Velho Marinheiro pela sua prosa frouxa não o intimidaram. ZPN seguiu com sua
cantilena:
-- Papai foi sempre um
repressor, autoritário, a gente não podia fazer isso nem aquilo. Para ele, tudo
o que não constasse de sua cartilha estreita rendia aos filhos castigos e mais
castigos. Um inferno. Mamãe tinha certeza de que o mundo acabaria logo, logo,
questão de dias. Mamãe sobrevivia à base de novenas, promessas.
Irritado, o Velho
Marinheiro resolveu dar um fim na conversa descabida:
-- Escuta aqui, Zeca: há
quantos anos seus pais morreram?
-- Papai há 25 anos;
mamãe há quase 20.
-- Os velhos morreram
há décadas e você continua com essa conversa afrescalhada, de atribuir culpas aos outros? Francamente, Zeca. Está na hora de você sair do armário, dar sossego às almas penadas dos
velhos e fechar a boca. Leve suas péssimas notícias para o inferno. Quero tomar minha cerveja em paz. Até mais ver, cria de Poe. (OS - 2014)
Adorei!!@
ResponderExcluirQue bom, Vólia. Obrigado.
Excluir