segunda-feira, 7 de março de 2016

ZPN, O AGOURENTO


-- Estou ferrado – disse o Velho Marinheiro para si mesmo, ao perceber que, além dele, não havia nenhum outro freguês no bar do Carneiro e que "Zeca Péssimas Notícias” (ZPN) se aproximava, com aquele seu semblante de carpideira.

"Zeca Péssimas Notícias” é adepto fervoroso da Lei de Murphy, segundo a qual aquilo que pode dar errado sempre dará errado. Alguns o consideram apenas um pessimista. Outros tantos vão além: colocam-no na conta de agourento – agourento incurável. Não por acaso, também é conhecido como “O Corvo da Vila Invernada”.

Sem que nada lhe fosse perguntado, ZPN desandou a dar explicações que ninguém lhe pediu:

-- Ninguém é assim, como eu, por acaso. Não é mesmo! Sei que falam mal de mim pelas costas. Sei também que muitos me evitam... Sei que...

A cara amarrada e a falta de interesse do Velho Marinheiro pela sua prosa frouxa não o intimidaram. ZPN seguiu com sua cantilena:

-- Papai foi sempre um repressor, autoritário, a gente não podia fazer isso nem aquilo. Para ele, tudo o que não constasse de sua cartilha estreita rendia aos filhos castigos e mais castigos. Um inferno. Mamãe tinha certeza de que o mundo acabaria logo, logo, questão de dias. Mamãe sobrevivia à base de novenas, promessas.

Irritado, o Velho Marinheiro resolveu dar um fim na conversa descabida:

-- Escuta aqui, Zeca: há quantos anos seus pais morreram?

-- Papai há 25 anos; mamãe há quase 20.

-- Os velhos morreram há décadas e você continua com essa conversa afrescalhada, de atribuir culpas aos outros?  Francamente, Zeca. Está na hora de você sair do armário, dar sossego às almas penadas dos velhos e fechar a boca. Leve suas péssimas notícias para o inferno. Quero tomar minha cerveja em paz. Até mais ver, cria de Poe.  (OS - 2014)



2 comentários: