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MORALISMO
DE RESULTADOS
O
combate à corrupção não é mero moralismo udenista,
como
dizem os réus para tentar minimizar suas culpas
Por
Nelson Motta
O
Globo – 01/09/2017
Não são os coxinhas ou mortadelas,
comunistas ou neoliberais, progressistas ou conservadores, não é o Gilmar ou a
Lava-Jato. O inimigo público número um é a corrupção institucionalizada:
viramos uma cleptocracia. O TCU comprovou que cerca de 10% dos benefícios da Previdência são fraudados, um prejuízo de R$ 56 bilhões, que faz grande diferença
no déficit avassalador que gera a maior parte da dívida da União.
Não é só na Previdência. A sensação é
que em qualquer ministério, autarquia ou agência em que for feita uma auditoria
rigorosa e uma investigação policial profunda surgirão desvios assombrosos.
Parece que o mensalão, o petrolão, a Lava-Jato, o Dnit, a Eletrobras, o BNDES,
o Carf, os fundos de pensão das estatais, as incontáveis operações da Polícia
Federal são apenas as pontas do iceberg da corrupção institucionalizada que
congela o desenvolvimento e a justiça social. Se tornou um modo de vida, uma
cultura nefasta que inviabiliza o progresso da sociedade.
Não, a atual obsessão com o combate à
corrupção não é mero moralismo udenista, como dizem os réus e investigados para
tentar minimizar suas culpas, é o clamor da sociedade por uma ação
judiciário-policial-econômica para proteger o dinheiro do contribuinte e dar
mais recursos ao Estado, é o dinheiro mesmo que interessa. Não é uma caça às
bruxas, é um pragmatismo suprapartidário, por premente necessidade. É o
dinheiro que falta para financiar o desenvolvimento econômico e a justiça
social.
Por que no Brasil são tão disputados
os postos de fiscal de qualquer coisa? Por que os políticos trocam votos para
fazer nomeações? Por que tantos funcionários concursados aderiram a partidos
políticos para facilitar promoções? Por que tantas categorias que servem ao
Estado aumentam os seus salários, se dão vantagens, e nós pagamos a conta?
Diante da evidência e dimensão dos
rombos no patrimônio público, a questão moral é quase secundária, embora seja a
causa de todos os prejuízos: a justiça é lenta, e o fundamental agora é
recuperar o dinheiro e impedir que mais seja roubado. É o moralismo de
resultados.
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