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OPINIÃO
PIMENTA NOS
OUTROS, PODE.
EM LULA, NÃO. É
ISSO?
06/03/2016
(Por Ricardo
Noblat) Na última sexta-feira, o ministro Marco
Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, foi a primeira voz de respeito a
censurar a decisão do juiz Sérgio Moro favorável ao emprego da condução
coercitiva para que Lula fosse depor aos procuradores da Lava-Jato.
"Condução coercitiva? O que é isso? Eu não compreendi. Só se
conduz coercitivamente, ou, como se dizia antigamente, debaixo de vara, o cidadão
que resiste e não comparece para depor. E o Lula não foi intimado",
afirmou o ministro.
Condução coercitiva quer dizer condução obrigatória. De fato, Lula
não fora intimado. Agentes federais amanheceram no seu apartamento de São
Bernardo do Campo e o lavaram para depor em uma delegacia da Polícia Federal no
aeroporto de Congonhas. Ele ficou ali por três horas.
Naquele dia, a prefeitos que se reuniram com ela no Palácio do
Planalto, a presidente Dilma havia manifestado seu "absoluto
inconformismo" com a "desnecessária" condução coercitiva de
Lula, que "por várias vezes compareceu de forma voluntária para prestar
esclarecimentos".
Dito assim, parece que Lula saiu por aí batendo em portas de
delegados e de procuradores se oferecendo para esclarecer isso ou aquilo. Não
foi assim. Intimado a depor várias vezes, ele atendeu a algumas intimações. E
conseguiu driblar outras.
Das dezenas de vozes que protestaram contra a condução coercitiva de
Lula, entre elas as de juristas, a voz de Rui Falcão, presidente do PT, foi a
mais inflamada, a ponto de provocar tensão entre generais do Alto Comando do
Exército, em Brasília. Rui disse:
- A condução coercitiva de Lula representa um ataque à democracia e
à Constituição. Trata-se de novo e indigno capítulo na escalada golpista que
busca desestabilizar o governo da presidente Dilma Rousseff, criminalizar o PT
e combater o principal líder do povo brasileiro.
Tudo é golpe para o PT. Quando o escândalo do mensalão ameaçou
encurtar o mandato de Lula, o PT falou em golpe. O pedido de impeachment de
Dilma foi e é tratado como golpe. A humilhação de Lula foi mais um capítulo do
golpe que está em marcha.
Está tudo bem, tudo muito bem, só não dá para entender uma coisinha:
por que nenhuma das vozes que se revelaram inconformadas com a condução
coercitiva de Lula se fez ouvir quando outros envolvidos com a Lava-Jato foram
conduzidos coercitivamente para depor? Não repararam? Não se tocaram?
Só vale para os outros a condução coercitiva, para Lula, não? É
capaz de valer para importantes empresários, alguns deles presos; ultimamente
para políticos; e para gente comum. Aliás, para esse tipo de gente sempre
valeu. Quem se incomoda com ela? Mas para Lula, não? Por quê?
"Lula, somente ele, é o responsável pela situação em que se encontra.
Não foram seus adversários que o levaram a prevaricar.
Não foram as elites que o forçaram a se corromper.
Ninguém o obrigou a jogar na lama sua fama de homem decente."
Ex-presidente da República não tem direito a fórum privilegiado.
Está sujeito à Justiça de primeira instância. Como os demais cidadãos, pode
apelar de decisões da primeira instância às instâncias superiores da Justiça. E
é só. Não tem direito a nenhum tratamento especial.
O mais espantoso é que Lula não foi o primeiro, nem o segundo, nem
será o último suspeito da roubalheira na Petrobras a ser conduzido para depor
“sob vara”, como prefere o ministro Marco Aurélio. Antes dele, 116 suspeitos
foram alvo de condução coercitiva. Lula foi o 117º.
É como observa com razão a nota oficial distribuída, ontem, pela
força-tarefa do Ministério Público encarregada da Lava-Jato:
"Houve no âmbito da Lava Jato 117 mandados de condução
coercitiva. Apenas em relação à do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva houve
manifestação de opiniões contrárias. Conclui-se que esses críticos insurgem-se
não contra o instituto da condução coercitiva em si, mas sim pela condução
coercitiva de um ex-presidente da República".
Os procuradores reconhecem que Lula merece respeito, mas apenas
"na exata medida do respeito que se deve a qualquer outro cidadão
brasileiro".
Estão certos.
Lula, somente ele, é o responsável pela situação em que se encontra.
Não foram seus adversários que o levaram a prevaricar. Não foram as elites que
o forçaram a se corromper. Ninguém o obrigou a jogar na lama sua fama de homem
decente.
Lula é vítima de Lula, da sua ambição desmedida pelo poder, do seu
encantamento por um mundo ao qual sempre quis pertencer, da falta de solidez
dos seus compromissos com valores e princípios que dizia cultivar. É triste que
termine assim.
| RICARDO NOBLAT |
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