FRANCENILDO PEREIRA (WWW.CIDADEVERDE.COM) |
O
CRIME CONTRA FRANCENILDO
FOI
A CONCRETIZAÇÃO NO VAREJO
DO
PROJETO TOTALITÁRIO DA SÚCIA
O
STF rejeitou não uma condenação a Palocci,
mas
a simples abertura de processo
Por Valentina de Botas
Blog
do Augusto Nunes – 27/09/2016 às 6:31
No
registro da minha repulsa ao PT, posso ter passado a impressão de que tenho
alguma coisa pessoal contra Lula e Dilma. Procuro, com este texto, desfazer
essa eventual impressão e esclarecer tudo: tenho, sim, um problema pessoal com
Dilma Rousseff e Luís Inácio Lula da Silva. Como ministra, Dilma, a anoréxica
devoradora de livros, preferia a leitura de dossiês que miravam as pessoas de
Ruth Cardoso e Fernando Henrique. Como candidata, não repudiou a quebra do
sigilo fiscal de José Serra (da filha e do genro dele), durante a campanha,
porque ele se atrevera a disputar uma eleição com ela. Adversários, para o
petismo, são um efeito colateral da democracia burguesa a ser evitado.
Presidente, chefiou um governo em que a Polícia Federal assassinava reputações,
conforme denunciou Tuma Jr. sem ser desmentido ou processado.
É
verdade que o PT não inaugurou torpezas na política nem inventou a corrupção,
blablabla que os incuráveis repetem. A organização criminosa que pretendeu
substituir a sociedade e fez do governo mero acesso ao Estado para sustentar o
partido, só usou e abusou da corrupção e demais canalhices de modo tão inédito que
os meios se fundiram aos fins e o partido roubava para continuar no poder para
continuar roubando para continuar no poder. Na crônica da sordidez inédita na
nossa história, considero um momento especialmente torpe quando Lula presidente
acionou a máquina do Estado contra um cidadão que contou o que viu: Francenildo
Pereira, o caseiro do todo poderoso ministro Antônio Palocci, lançando luz
sobre os subterrâneos da organização criminosa que saqueava nossa grana e a
institucionalidade num colossal golpe contra a democracia.
Francenildo,
que teve o sigilo bancário violado por Jorge Mattoso à procura de uma
movimentação financeira que provasse que o pobre rapaz estava a soldo da
oposição, foi moído pelo Leviatã: o caseiro é o verdadeiro trabalhador humilde
perseguido na história recente, e não o jeca que anda de jatinho paparicado por
alguns dos advogados mais caros do país. Era o Estado policial fascista não
mais como projeto, mas aplicado. Assim,
assumi a coisa como pessoal e me coloquei no lugar de Francenildo porque eu e
qualquer outro cidadão que contrariassem o degenerado Leviatã petista
poderíamos estar no lugar de Francenildo, a outra face da mesma cara medonha do
projeto petista.
O
STF rejeitou não uma condenação a Palocci, mas a simples abertura de processo,
por um placar apertado. Ora, há o relato factual do encontro entre o
ex-ministro e o infame Jorge Mattoso presidente da Caixa Federal, onde
Francenildo era correntista. Palocci o convocara porque soubera por Tião Viana
que o caseiro recebera um vultoso depósito, que se provaria lícito. Passar o
caso para o Coaf? Não, nada de instituições, a coisa era entre indivíduos que
se apoderaram delas e moeriam os indivíduos deixados à margem. Num segundo
encontro, Mattoso levou o extrato a Palocci, consumando a coisa.
E
a coisa se abate contra qualquer um de nós e sobre nenhum deles. E a coisa é
pessoal porque é o esmagamento da consciência com o indivíduo dentro porque a
ele não é atribuído valor, nem a ela: à consciência dos francenildos é atribuído
perigo, daí o esmagamento. Daí o crime contra Francenildo ser já a
concretização no varejo do projeto totalitário da súcia, a cara desfigurada
pelo gozo sujo no modelo caudilhista e fascistoide, que troca leis por um homem
– um líder. Este líder jeca que pariu a era da canalhice tem uma dívida pessoal
com cada brasileiro.
Dez
anos depois, aquela luz tênue refulge e ilumina o caminho do ex-ministro para a
cadeia. Pode ser que saia nos próximos dias, mas ele é mais um petista que, uma
vez trazido à luz, se desfaz como vampiro de cinema. Quem cacareja hoje o
“fora, Temer” não reconhece o golpe obsceno e explícito que vigorou por 13 anos
contra a democracia e prefere enxergá-lo na destituição legal, legítima e
tardia da parva espertalhona.
Entre
tantas analogias possíveis em que o grande enfrenta o pequeno, penso em
Antígona, no simbolismo da minha personagem trágica preferida. Como
Francenildo, Antígona desafiou o Estado quando este lhe negou direitos de
cidadã para enterrar Polinices, o irmão que morrera lutando contra a Tebas
governada pelo tirânico Creonte, tio deles. De dentro da caverna onde foi
deixada para morrer pela ousadia, ela inaugurou o indivíduo jogando luz sobre o
Estado tirânico que ruiria.
Não
sei onde anda Francenildo, mas espero que o único homem pobre verdadeiramente
perseguido possa contemplar, afinal, aquela luz refulgir para a ruína dos
algozes da democracia insuportavelmente longevos.
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