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MUNDO
DE SOMBRAS
Em
vez de eternizar o PT no poder,
Antonio
Palocci ajuda a exterminar o partido
Publicado
no Estadão em 28/09/2016
Tivesse
mantido a aura de médico sanitarista, prefeito bem-sucedido de Ribeirão Preto
(SP) e ás do diálogo e da composição, Palocci teria todas as condições para
disputar a sucessão de Lula em 2010. Tinha um patrimônio pessoal: sólidas
relações em três mundos cada vez mais embolados, o político, o empresarial e o
financeiro. E tinha um patrimônio herdado de Lula: o crescimento econômico de
7,5% naquele ano.
Seria
imbatível dentro do governo, da base aliada e do próprio PT, já que José Dirceu
tinha a máquina do partido, mas jamais foi próximo o suficiente de Lula para
ser lançado por ele à Presidência e começou a balançar já no início da era
petista, quando seu braço direito, Waldomiro Diniz, foi flagrado pedindo
propina… a um bicheiro. Dirceu foi afundando até ser tragado pelo mensalão.
Quanto mais ele submergia, mais Palocci emergia.
Dirceu
caiu da Casa Civil de Lula em junho de 2005 e Palocci caiu da Fazenda menos de
um ano depois, metido numa casa suspeita no bairro mais rico de Brasília e em
figurinos bem diferentes do jaleco do médico do bem, cara bonachão, maridão
exemplar, político acima de qualquer suspeita. Segundo o caseiro Francenildo
Pereira, a tal casa era usada para orgias à noite e para acomodar pastas de
dinheiro durante o dia.
O
destino ainda deu uma segunda chance a Palocci. Por intermédio de Lula, virou o
cérebro da campanha de Dilma Rousseff, caiu nas graças dela e voltou por cima a
Brasília: do antigo Ministério da Fazenda, subiu para a chefia da Casa Civil,
no Planalto. Mas ele desabou de novo, agora sob o peso de contas milionárias,
empresas mal explicadas e negócios esquisitos que, tantos anos depois,
continuam vagando como fantasmas – dele e do PT.
O
“Italiano”, como Palocci é chamado nos e-mails da Odebrecht, deveria ser o
guardião da economia nacional, mas cuidava era das contas milionárias do PT e
era pau para toda obra da maior empreiteira do País. É suspeito de dar
jeitinhos para ajustar regras de IPI numa medida provisória, favorecer a
empresa no nebuloso negócio dos navios-sonda e mergulhar até no projeto de
submarinos da Marinha, o Prosub. Como “é dando que se recebe”, Palocci é
acusado pelos investigadores de dar uma força para a Odebrecht com uma das mãos
e embolsar uma gorda porcentagem com a outra.
ELIANE CATANHÊDE É JORNALISTA |
Lá
atrás, com a queda de Dirceu e de Palocci em 2005 e 2006, Lula chegou a namorar
a tese de um terceiro mandato, mas os amigos e o bom senso entraram em campo
para dissuadi-lo dessa saída “bolivariana” e só restou para sua sucessão em
2010 o nome de Dilma, que não tinha a liderança política de Dirceu nem a
habilidade pessoal e o trânsito de Palocci. Uma tragédia.
A
vida não é feita de “se”, mas impossível não derivar para uma reflexão quando
Palocci é preso pela Lava Jato: se fosse realmente grande, como se imaginava,
ele poderia ter sido o candidato do PT à Presidência em 2010 e toda a história
poderia ter sido muito diferente. Mas Palocci, segundo o despacho de Moro,
preferiu usar as campanhas e os mais altos cargos da República para achacar
empresários, fazer negócios escusos e amealhar a bagatela de R$ 128 milhões
(fora os R$ 70 milhões ainda em investigação) para o PT. Moral da história: ao
tentar eternizar o partido no poder, ele se transformou no oposto – em agente
decisivo para ameaçar o PT de extermínio.
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